terça-feira, 2 de outubro de 2007

Rede de proteção



A prisão do traficante Juan Carlos Ramirez Abadia, o Chupeta, foi noticiada no Brasil sem qualquer menção às Farc, embora seja universalmente reconhecido que nem um grama de cocaína sai da Colômbia sem passar pela narcoguerrilha, a qual vai assim controlando seus concorrentes até que o último deles se transforme em seu colaborador ou seja eliminado do mercado.


Há anos venho chamando a atenção dos meus leitores para a constância sistemática com que no território nacional as Farc, unidas ao PT por estreitos laços de amizade, são mantidas a salvo de qualquer ação policial mais decisiva, ao passo que seus competidores são perseguidos, presos e exibidos à população como provas de que o nosso governo é implacável e até heróico no combate ao narcotráfico. O principal resultado desse heroísmo, assim como de outras políticas oficiais coordenadas, como a famosa "redução de danos", é que o Brasil, segundo dados da ONU, é o único país onde o consumo de drogas cresce (na base de 10% ao ano), enquanto no resto do mundo permanece estacionário.


Desinformantes e idiotas úteis espalhados na mídia fazem a sua parte do serviço, procurando dar a impressão de que as drogas são um problema policial como outro qualquer e encobrindo o fato de que elas são um instrumento maior da estratégia revolucionária comunista no continente.


Mas não é só aqui que as Farc têm amigos. Pelo menos desde o Plano Colômbia de Bill Clinton, calculado para demolir os velhos cartéis - acusados de cumplicidade com os famosos "paramilitares de direita" - e entregar às Farc o monopólio do narcotráfico na América Latina, o Partido Democrata dos EUA tornou-se o grande padrinho da esquerda armada colombiana.


ONGs de "direitos humanos", subsidiadas pela esquerda chique americana, estão sempre ativas na Colômbia, ora para impedir que a população se arme contra os guerrilheiros que a aterrorizam, ora para pressionar no sentido de que as Farc (nunca as milícias de direita, é claro) sejam aceitas como força política legítima, convidadas à mesa de negociações e premiadas em vez de punidas por seus crimes, cujo leque vai do narcotráfico ao genocídio, passando por inumeráveis seqüestros e pelo treinamento em guerrilha urbana dado no Brasil ao Comando Vermelho e ao PCC para que mantenham o país em estado de pânico.


A coordenação internacional da rede de proteção às Farc é mais eficiente e precisa do que o mais inventivo "teórico da conspiração" poderia exigir. Com poucos dias de intervalo, rolou pela imprensa mundial uma fotografia manifestamente forjada na qual Álvaro Uribe parecia estender a mão a um daqueles paramilitares (que ele afirmava jamais ter conhecido), o Congresso democrata se recusou a renovar o acordo comercial americano com a Colômbia, que precisa dele desesperadamente para subsidiar a repressão às guerrilhas, e o senador Al Gore saiu indignado do plenário para protestar contra a presença do presidente colombiano, cujo maior pecado é ter 80% de aprovação popular no seu país pelo combate bem sucedido que vem movendo contra as Farc.


Quando, pressionado por tantos lados ao mesmo tempo, Uribe consente enfim em trocar a vitória militar pela derrota política e em aceitar a possibilidade de negociações com as Farc, o fato é noticiado na nossa mídia como se surgisse do nada, de repente, por inspiração divina.

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