Abdallah e Renato Rabelo assinaram o acordo com o objetivo de "contribuir para o fortalecimento das relações de amizade entre os povos da República Árabe e da República Federativa do Brasil, em favor dos interesses comuns de seus respectivos países e povos". Uma série de pontos de um programa de cooperação foi acertada - desde a troca de delegações das direções dos dois partidos (para conhecimento recíproco das experiências dos respectivos partidos em seus países) até a atuação conjunta pelo estreitamento das relações entre as organizações populares das duas nações.
Nas últimas eleições parlamentares na Síria, o Partido Baath ampliou sua maioria em relação aos pleitos anteriores. A Frente Nacional Progressista (NPF) - uma coalizão de dez partidos liderada pelo Partido Baath - conquistou 172 das 250 cadeiras que compõem o parlamento do país. Trata-se da atual base política do governo do presidente sírio Bashar Al Assad.
Durante a cerimônia de assinatura do acordo, Renato Rabelo declarou que a Síria cumpre hoje um papel de equilíbrio muito importante na região do Oriente Médio. Segundo o dirigente comunista, é um país em que diversas religiões e etnias convivem democraticamente. Renato insistiu que, no enfrentamento do inimigo número 1 dos povos - o imperialismo norte-americano -, as vitórias da Síria pela paz são vitórias do povo brasileiro também.
"Estamos felizes com a visita do secretário-geral do Partido Baath, Abdallah Al-Ahmar, neste momento em que renovamos as relações de amizade com o povo sírio", afirmou Rabelo. "Estamos trabalhando para destacar o papel da Síria no cenário internacional e vamos reafirmar o protocolo de amizade e cooperação que já tínhamos assinado na viagem da delegação do PCdoB à Síria, quando fomos recebidos carinhosamente pelo presidente sírio, Bashar Al Assad".
Abdallah agradeceu a acolhida dos brasileiros e disse que a determinação de firmar o acordo de cooperação revela o tratamento privilegiado que o Partido Baath empresta às relações com o PCdoB. De acordo com o dirigente, a principal tarefa é "aproximar nossos dois governos e nossos dois povos". Ele lembrou que, desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi visível o esforço para fazer avançar a cooperação entre os dois países, culminando com a realização da cúpula dos países árabes e o Brasil.
"Temos muitas questões em comum entre nossos dois partidos, como a luta contra o imperialismo norte-americano e a defesa das liberdades em nossos dois países", enfatizou o secretário. "Somos contra as guerras, ocupações e agressões aos povos, e não aceitamos a interferência indevida nos assuntos internos de outros países."
Leia abaixo, na íntegra, o texto do acordo Baath-PCdoB
Acordo de cooperação entre o Partido Baath Árabe Socialista e o Partido Comunista do Brasil
Partindo da vontade comum do Partido Baath Árabe Socialista e do Partido Comunista do Brasil de estabelecer relações de cooperação nos diferentes âmbitos, de modo a contribuir para o fortalecimento das realções de amizade entre os povos amigos da República Árabe e da República Federativa do Brasil, em favor dos interesses comuns de seus respectivos países e povos,
Foi acordado o seguinte programa de cooperação:
Primeiro: Ambos os partidos intercambiarão visitas de delegações das direções dos dois partidos, em datas a serem acordadas, para intercambiarem opiniões e pontos de vista sobre questões de interesse comum e conhecerem as experiências do trabalho de ambos os partidos em seus respectivos países.
Segundo: Ambos os Partidos intercambiarão visitas de delegações, em datas a serem acordadas, para conhecerem as diferentes áreas de seus respectivos trabalhos e intercambiarem experiências entre si.
Terceiro: Ambos os Partidos intercambiarão documentos e boletins partidários relevantes emitidos por cada um.
Quarto: Ambos os partidos intercambiarão convites para a participação em congressos e seminários a serem realizados por cada um, em conformidade com as tradições respectivas de cada partido.
Quinto: Ambos os Partidos manterão consultas entre si e intercambiarão pontos de vista em congressos e seminários regionais e internacionais de que tomarão parte.
Sexto: Ambos os Partidos atuarão pelo estreitamento das relações de amizade e cooperação entre as organizações populares com o objetivo de conhecerem as experiências por elas adquiridos.
Sétimo: O Escritório das Relações Exteriores da Direção Nacional do Partido Baath Árabe Socialista e o Departamento das Relações Exteriores do Partido Comunista do Brasil acompanharão a implementação das cláusulas do presente acordo.
São Paulo, 1° de setembro de 2007
Pelo Partido Baath Árabe Socialista
Abdallah Al-Ahmar
Secretário Geral Adjunto do Partido Baath Árabe Socialista
Pelo Partido Comunista do Brasil
José Renato Rabelo
Presidente do Partido Comunista do Brasil
Por Iuri Dantas da Folha de São Paulo
Brasília - 02/06/2007
Para o professor David Fleischer, da Universidade de Brasília, o PT acompanha o mesmo movimento com o Baath em curso nos Estados Unidos e em Israel. Como o governo brasileiro também possui interesses na Síria, ele vê o acordo como "uma jogada esperta".
"O PT sempre teve um setor de relações internacionais bastante ativos. Essa iniciativa com o Baath, um partido muito reacionário, é inusitada, diferente. Pode ser que tenha aproveitado aproximação feita pelo governo brasileiro com a Síria. Neste sentido é uma jogada esperta."
Fundado em 1947 com proposta nacionalista e socialista, o Baath prega a criação de um Estado único árabe na região e reivindica terras ocupadas por Israel na Guerra dos Seis Dias.
O partido Baath, teve seu nome vinculado ao assassinato do ex-primeiro ministro do Líbano, Rafik Hariri, em 2005. Ele foi morto na explosão de um carro bomba, quatro meses depois de deixar o cargo. O presidente Lula visitou a Síria no primeiro ano de seu governo.
Leia a íntegra do acordo:
Partindo da vontade comum do Partido Baath Árabe Socialista e do Partido dos Trabalhadores de constituir relações de cooperação metódica entre ambas as instituições, com o objetivo de estreitar os laços de amizade entre os povos amigos da República Árabe da Síria e da República Federativa do Brasil, e de melhor servir aos interesses comuns dos dois países e povos, assinaram o seguinte acordo de cooperação:
1. Incentivar a troca de visitas de delegações oficiais entre os Partidos em datas acordadas antecipadamente, objetivando a troca de idéias e pontos de vista a respeito das causas comuns.
2. Promover a troca de visitas entre delegações especializadas, em datas acordada antecipadamente, objetivando a troca de experiência a respeito da logística de trabalho de cada Partido, e a troca de experiências.
3. Promover a troca de publicações e de documentos partidários importantes.
4. Promover a troca de convites para que cada Partido possa participar nos Congressos e Conferências do outro, de acordo com as tradições de cada Partido.
5. Concordam ambos os Partidos em buscar coordenar os pontos de vista durante a sua participação em Congressos e Fóruns regionais e internacionais.
6. Trabalhar no sentido de fortalecer as relações de amizade e cooperação entre as organizações populares e as sociedades representantes da sociedade civil, objetivando o intercâmbio de experiências.
7. Encarregar o escritório de Relações Internacionais no partido Baath Árabe Socialista e a Secretaria de Relações Internacionais no Partido dos Trabalhadores de acompanhar a execução dos Itens deste acordo.
8. Este acordo terá duas versões em árabe e em português, tendo o mesmo efeito.
Assina o acordo os presidentes Partidos Baath Árabe Socialista e do Partido dos Trabalhadores
Partido Baath Árabe Socialista
Indo a eles, através do dinheiro
02 de outubro de 2001
The Economist
Suplemento Valor
"Se seguirmos o dinheiro, chegaremos aos terroristas", disse George Bush ao divulgar os nomes dos 27 supostos clientes do setor bancário global incluídos na lista que o presidente dos EUA chamou de "equivalente financeiro das listas de mais procurados por crimes". Dentre aqueles que, conforme determinou Bush em 24 de setembro, tiveram as contas bloqueadas, estão Osama bin Laden, sua organização Al-Qaeda, um punhado de entidades beneficentes islâmicas e uma empresa de comércio exterior. Entretanto, a maior parte dos ativos dos terroristas é mantida fora dos EUA (a sede da empresa de comércio exterior fica em Hamburgo, Alemanha) e, sem dúvida, oculta-se sob nomes falsos. Quais as chances, então, de que a determinação de Bush afete aqueles contra os quais declarou guerra?
A julgar por esforços anteriormente feitos para rastrear dinheiro sujo ou impedir que cruze fronteiras, a probabilidade não é das maiores. Os ativos de uns poucos e nada discretos indivíduos, como o falecido ex-presidente da Nigéria, Sani Abacha, foram bloqueados ou confiscados. As autoridades conseguiram pôr as mãos em algum dinheiro gerado por atividades criminosas, sobretudo o tráfico de drogas. Mas as quantias são insignificantes quando comparadas com o volume total de dinheiro ilícito que circula pelo mundo. O Fundo Monetário Internacional calcula que a quantidade de dinheiro sujo lavado pelo sistema financeiro é enorme: entre US$ 500 bilhões e US$ 1,5 trilhão ao ano - o equivalente a 5% do produto mundial bruto.
As autoridades certamente tentaram. Nos EUA, a legislação contra a lavagem de dinheiro agora demanda a aplicação de vastos recursos dos bancos, que precisam "conhecer o cliente" suficientemente bem para ter certeza de que o dinheiro de seus depósitos não provém de fontes criminosas Os bancos também são obrigados a informar aos órgãos reguladores sobre quaisquer transações financeiras suspeitas. A Financial Action Task Force (FATF), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tem intensificado esforços para conseguir que se estabeleça uma ação internacional contra a lavagem de dinheiro.
O principal problema é que, em vários países - sobretudo, nos centros financeiros offshore, onde as regulamentações são pouco restritivas e a tributação baixa - os clientes dos bancos são protegidos por leis que garantem sua privacidade e sigilo. Nos últimos anos, aumentou a pressão política sobre esses paraísos fiscais e passou-se a aventar sanções (ainda não impostas) contra países onde as leis são tímidas ou o desrespeito a seu cumprimento não é punido. O impacto disso, porém, é limitado. O sigilo bancário é lucrativo para quem o oferece.
Quando o dinheiro passa por centros financeiros extremamente discretos, é difícil saber de onde veio ou para onde vai. Para os bancos estrangeiros que possuem clientes em tais centros, pode ser praticamente impossível conhecer o cliente - ainda mais quando se considera a rede global de bancos "correspondentes".
Estrelas e bumerangues. Os métodos que os terroristas empregam para transferir recursos de regiões que os financiam para os países que pretendem atacar são, com frequência, idênticos aos utilizados por gangues criminosas. Especialistas em lavagem de dinheiro dizem que os dois tipos de grupos usam, por exemplo, uma técnica conhecida como "explosão de estrelas": deposita-se o dinheiro sujo num banco, com a determinação pré-estabelecida de que seja transferido em partes pequenas e aleatórias para centenas de outras contas bancárias espalhadas pelo mundo. O rastreamento desse dinheiro torna-se uma operação de guerra desgastante, pois a permissão legal para se investigar contas bancárias em diferentes jurisdições pode levar anos para ser concedida. Outra artimanha é o "bumerangue": o dinheiro percorre um longo arco, que atravessa o mundo todo para, então, retornar ao país de onde saiu. No meio do caminho, passa por aquilo que os lavadores de dinheiro chamam de "buracos negros", em referência a países que não dispõem de recursos, ou inclinação, para investigar os bancos.
Há, contudo, algumas diferenças entre a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo, diz Patrick Moulette, chefe do secretariado da FATF. Inicialmente, a fonte dos recursos utilizados por organizações terroristas pode ser legal. É o que acontece quando o dinheiro vem de um indivíduo abastado ou de instituições religiosas de caridade. O dinheiro é "limpo" no início e só fica sujo depois, quando o atentado terrorista é cometido. Isso torna sua identificação bem mais difícil. Além de examinar as origens do dinheiro que aceitam dos novos clientes, os bancos precisariam fazer julgamentos subjetivos sobre sua provável utilização.
A organização de Bin Laden é excelente exemplo da tendência seguida pelo financiamento ao terrorismo na última década. Como o apoio de Estados nacionais minguou, aumentou a participação de indivíduos. Alguns doam somas generosas; mas grande parte, acredita-se, provém de entidades beneficentes islâmicas sediadas no Oriente Médio, Europa e EUA.
Atuar sobre as instituições de caridade é, por si só, tarefa repleta de obstáculos. Na semana passada, a Charity Commission, órgão do governo britânico de apoio a entidades beneficentes, excluiu de seu cadastro a International Islamic Relief Organization - acusada de participar da rede de apoio à Al-Qaeda - sob a alegação de que a instituição não parece desenvolver qualquer tipo de ação de caridade. Em 1996, porém, uma investigação sobre a organização denominada Interpal (Palestinian Relief & Development Fund), também acusada de ligações terroristas, acabou sendo abandonada, já que não foram encontradas evidências de tal conexão. As populações pobres dos países muçulmanos serão as primeiras vítimas de qualquer medida severa adotada de forma indiscriminada contra entidades beneficentes. Em todo caso, dizem especialistas em ações antiterroristas, é provável que tais instituições sejam vistas agora como um mecanismo antiquado e inseguro pela rede comandada por Bin Laden.
No caso de recursos obtidos por vias escusas, o desafio com que as autoridades se deparam não é menor. Obter o direito legal de investigar um banco na busca de dinheiro roubado pode levar meses, queixa-se Martin Kenney, fundador da Interclaim, empresa sediada em Dublin que rastreia ativos roubados para empresas e indivíduos. Em função de leis que protegem a privacidade das pessoas, os investigadores só podem chegar aos bancos quando contam com indícios bastante sólidos.
A pressão por mudanças na legislação de sigilo bancário aumentará e novas maneiras de agir contra o financiamento a atividades terroristas acabarão por tornar-se necessárias. Uma das alternativas seria centrar o foco no que Mark Pieth, professor de direito criminal da Universidade de Basiléia, chama de "especialistas em otimização tributária". Essas pessoas, que sabem como constituir empresas de fachada e outras estruturas para encobrir o patrimônio de seus clientes, também os apresentam para os bancos e, assim, dispõem de muito mais informações sobre seus vínculos potenciais com o terrorismo ou o crime organizado do que os próprios bancos.
Apesar dos obstáculos, o Foreign Terrorist Asset Tracking Centre, novo órgão do Tesouro americano, e outros órgãos similares, provavelmente encontrarão parte do dinheiro de Bin Laden e de outros integrantes da lista de Bush. Ao que parece, detalhes bancários sobre os sequestradores dos aviões usados nos ataques suicidas e alguns de seus associados que acabaram presos fornecem elementos iniciais para um rastreamento eletrônico que leva a contas em paraísos fiscais.
Basta prometer. A cooperação internacional é fundamental. Mesmo assim, o dinheiro de Bin Laden deve estar guardado em lugar seguro e afastado. Além disso, o tipo de prática bancária tradicional, baseada em relações de confiança, conhecida como hawala, de que Bin Laden talvez tenha se utilizado, não deixa pistas rastreáveis. Trata-se de uma prática em que banqueiros muçulmanos de diferentes localidades efetuam pagamentos com base na promessa de que um pagamento correspondente foi efetuado em outro banco, sem que nenhum dinheiro passe necessariamente por contas que poderiam ser relacionadas com o dono do dinheiro. Nos últimos anos, também com o objetivo de eliminar qualquer rastro financeiro de suas atividades, a Al-Qaeda passou a se utilizar cada vez mais de dinheiro em espécie. E suas unidades com frequência se financiam a si mesmas de forma independente, por meio de atividades criminosas.
Esforços internacionais dificilmente serão capazes de interromper transferências de quantias pequenas entre fronteiras. Nos EUA, os bancos somente são obrigados a notificar as autoridades sobre movimentações internacionais que somem US$ 10 mil ou mais. Várias centenas de milhares de pequenos pagamentos são executados diariamente. Não seria difícil fazer um sujeito que vive nos EUA, e não tem qualquer envolvimento com atividades terroristas, abrir uma conta em favor de um amigo terrorista. Se Bin Laden é capaz de recrutar 30 pessoas para morrer em seu nome, observa Charles Calomiris, da Columbia University, não terá qualquer dificuldade para encontrar 100 que se disponham a abrir contas em bancos.
Por fim, é importante lembrar que os terroristas não precisaram dispor de quantias significativas para pagar pela recente devastação. É provável também que boa parte do dinheiro que utilizaram tenha cruzado a fronteira em espécie. Outra parcela considerável foi obtida nos EUA mesmo, sem chamar a atenção das autoridades, por meio daquela tradição americana que data de tempos imemoriais: obter um cartão de crédito e endivida-se.
A questão é: como os terroristas fazem para conseguir tanto dinheiro para financiar suas organizações e seus ataques? A resposta é simples: o terrorismo é uma indústria, um negócio lucrativo e rendoso como outro qualquer.
1. O Terrorismo sempre foi um negócio.
Durante a Guerra Fria, o terrorismo era a prática, tanto dos EUA como da URSS, para derrubar regimes dominados por um ou por outro respectivamente. Mesmo não aparecendo na linha de frente, os dois países, e seus aliados, apoiavam grupos interessados em derrubar os regimes contrários. Mesmo antes do fim da Guerra Fria, lá pelo final dos anos 70 e início dos 80, alguns destes grupos assumiram um caráter de independência e começaram a buscar maneiras de se financiar, promovendo algo parecido com uma “privatização” do terrorismo. Para conseguir dinheiro, eles passaram a desenvolver atividades tanto legais como ilegais: O IRA, por exemplo, assumiu o monopólio do transporte privado, em Belfast; a OLP (Organização Para Libertação da Palestina) tomou o controle do comércio de haxixe (maconha), no vale de Bekaa.
2. A globalização impulsionou o terrorismo.
A globalização dos anos 90 ajudou a expandir os negócios terroristas que, assim como as grandes empresas, também passaram a ser transnacionais. Os sócios do terror possuem milhares de pequenas e médias empresas espalhadas pelo mundo - de padarias a lojas de material de construção. Yosef Nada e Idris Nasreddin, por exemplo, são dois empresários que servem de “testa de ferro” para os negócios globalizados de Bin Laden. Hoje em dia, é quase impossível controlar as formas “legais” de enriquecimento da indústria do terror.
3. Cada vez que um Americano lê um jornal ou toma um gole de refrigerante, contribui para o império financeiro de Bin Laden.
Os negócios do terror não poderiam ignorar nem deixar de fora uma importante fonte lucros, como o maior Mercado consumidor do mundo: os EUA. Em meados dos anos 90, enquanto residia no Sudão, Osama Bin Laden adquiriu cerca de 70% da Gum Arabic Company Ltd. (Companhia que domina 80% da produção mundial de goma arábica*). Devido à variedade de utilizações, a goma arábica é matéria prima indispensável na indústria moderna e os EUA são os maiores importadores do mundo.
*GOMA ARÁBICA: é extraída a partir da secreção da árvore conhecida como Acácia. É uma goma neutra ou levemente ácida e contém cálcio, magnésio e potássio. A goma arábica retarda a cristalização de açúcar em confeitos, estabiliza emulsões e atua como espessante. Em bebidas, atua como emulsificante e estabilizante de espuma. Apresenta excelentes características de encapsulamento. É um agente fixador de aromas em misturas secas para bebidas.
Em novembro de 1997, quando o presidente Clinton impôs sansões econômicas ao Sudão, a pressão da Associação de Jornais Impressos e de Refrigerantes da América (por dependerem da goma arábica como fundamental instrumento de produção) fizeram com, que a goma arábica acabasse por ficar de fora da sansão.
4. A economia do terror é maior que o PIB (Produto Interno Bruto) do Reino Unido.
A globalização também contribuiu, e muito, para internacionalização e expansão de atividades ilegais e criminosas, que movimentam cerca de 1,5 trilhões de dólares. Isso, sem dúvida, é maior do que o PIB de muitos países.
5. A economia do terror alavanca o capitalismo
Os U$1,5 trilhões de dólares ilegais são “lavados” no mercado capitalista dos EUA e da Europa. Isto é uma incrível injeção de capital, que certamente provocaria sérios abalos econômicos, se deixasse de existir.
6. Os negócios ilegais da indústria do terror crescem mais rápido que a economia americana.
Até agora, que se saiba, a economia do terror é conduzida em dólares (espécie), especialmente no que se refere aos seus negócios ilegais, como o contrabando de armas e o tráfico de drogas. Assim, uma boa indicação a respeito da movimentação deste dinheiro pode ser observada na quantidade de notas de dólar que estão sendo impressas pelos EUA a cada ano. Isso acontece por causa da enorme quantidade de notas que deixa o país através de contas ilegais, nos paraísos fiscais, e de pessoas que entram e saem do país, levando maletas cheias de dinheiro. Pelas quantidades de dólares fabricados pelo governo americano, pode-se dizer que a movimentação da economia do terror ultrapassa, e muito, a da economia norte-americana.
7. A especulação em torno dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Durante a semana que antecedeu aos ataques de 11 de setembro, pode-se observar um aumento no volume de negociações em determinados setores: transporte aéreo, energia e segurança. Ações das duas companhias aéreas envolvidas nos ataques, American e United Airlines, foram alvo de especulações, com movimentações atípicas. Coisa similar aconteceu com companhias de seguro, especialmente no que se refere ao mercado futuro. O mercado de Commodities também foi alvo de especulações. Inexplicavelmente, nos dias que antecederam os ataques, os mercados de óleo e ouro experimentaram um aumento súbito, aparentemente sem razões. No dia 12 de setembro, tanto o óleo como o ouro tiveram aumentos de 13% e 3% respectivamente. Certamente, quem investiu “inexplicavelmente” grandes somas nestes dois mercados sabia do que estava por ocorrer.
8. Os temas que envolvem o terrorismo podem ser uma boa fonte de renda.
Um bom exemplo disso é o que o Governo norte-americano fez para angariar dinheiro no mercado de futuros. O Pentágono abandonou um projeto de 20 meses, FUTURE PAM, para jogar no mercado de futuros com uma bolsa de apostas, na Internet, que especulava a respeito de assassinatos e ataques terroristas. Esse novo “projeto” virtual foi desenvolvido pelo vice-almirante da reserva John Poindexter. Este senhor está envolvido em vários inquéritos, acusado de destruir documentos probatórios, obstruir a justiça e mentir para o Congresso, durante as investigações sobre os Contra do Irã – processo em que os EUA são acusados de financiar os terroristas que lutavam contra o governo estabelecido naquele país. Na época, vários senadores americanos foram contra este tipo de atitude dos EUA, por acharem que os maiores beneficiários poderiam ser os terroristas (não estavam errados, diga-se de passagem).
9. O Terrorismo é um negócio tão rentável que ninguém parece querer acabar realmente com ele.
Até agora, parece que os esforços para “acabar com o terror” não tiveram efeitos significativos. Desde os ataques de 11 de setembro de 2001, apenas 140 milhões de dólares foram congelados em contas bancárias. Os negócios legalizados e as doações de milhares de muçulmanos espalhados pelo mundo permanecem intocados em sua maioria. A Haramain Charitable Foundation – uma falsa fundação de caridade saudita, de comprovada relação com o terrorismo – arrecada cerca de 30 milhões de dólares por ano e continua em plena atividade em vários países do mundo. Assim como esta “fundação” há várias outras na mesma situação. Apesar do governo da Arábia Saudita ter congelado 4,7 milhões de dólares em contas bancárias, ter fechado 6 das 241 associações de “caridade” sauditas e ter proibido a coleta de esmolas nas portas dos shoppings centers, isto não representa muito, se comparado aos 20% do PIB da Arábia Saudita que se destinaram à fundação da Al Qaeda.
10. Os EUA perderam duas oportunidades concretas de prender Osama Bin Laden.
Em 1996, o então Ministro da Defesa do Sudão, Major General Elfatih Erwa, ofereceu a extradição de Bin Laden para os EUA. Os americanos recusaram a oferta e apenas pediram às autoridades sudanesas que fizessem com que Bin Laden deixasse o país. Algumas semanas depois do ataque de 11 de setembro, os dois líderes dos partidos islamitas paquitaneses negociaram com Mullah Omar e com a família Bin Laden a sua extradição do Paquitão, para compensar os ataques de 11 de setembro. Mais uma vez os EUA recusaram e optaram por invadir o Iraque (?!).
Aparentemente, após dois anos e meio de Guerra contra o terror, os terroristas são os vencedores, uma vez que os EUA apresentam o maior déficit financeiro de sua história e as finanças da Al-Qaeda estão praticamente intactas.
O que pode ser feito? Primeiro o principal: encarar o terrorismo como um negócio global. Depois, fazer com que os muçulmanos do mundo inteiro parem de poder doar dinheiro à fundações muçulmanas que notoriamente estejam ligadas a atividades terroristas e, finalmente, iniciar uma caçada ao dinheiro do terror em todos os países, mesmo que isso implique na investigação e até eventual destruição de mega-empresas e oligopólios capitalistas: Wall Street, Londres e outros centros financeiros mundiais.
Loretta Napoleoni é uma economista que já trabalhou em bancos e em organizações internacionais, na Europa e nos EUA. Ela já escreveu livros e guias em italiano, bem como alguns tratando do tema terrorismo. Ela é uma das raras pessoas que pôde estar entre os terroristas das Brigadas Vermelhas, para escrever sobre eles. Foi quando teve a idéia de escrever um livro falando sobre a economia do terror. Sua última publicação (setembro, 2003) foi o livro chamado “Modern Jihad: Tracing the Dollars Behind the Terror Networks”.
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