quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Novo projeto do PT é injusto com os militares e abre risco de loteamento

EDITORIAL DO JORNAL ESTADO DE MINAS

15 SET/2007

Forças Armadas e a democracia

Preocupam, por se tratar do principal núcleo de sustentação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as demonstrações que o Partido dos Trabalhadores tem dado de total incapacidade de trocar agendas antigas, e não raro esdrúxulas, pelo enfrentamento de temas que tenham a ver com a construção de um país menos distante das sociedades mais desenvolvidas do planeta ou que, pelo menos, trate de planos para um Brasil mais próspero e mais justo para as próximas gerações.

O que restou do último congresso nacional do partido, no início do mês, além das tradicionais obviedades, foi a aprovação de uma coletânea de bandeiras, que vão desde um anacrônico plebiscito em favor da reestatização da Companhia Vale do Rio Doce, passando pela intervenção direta do Estado nas telecomunicações, até a convocação de uma mal definida e, por isso mesmo, perigosa assembléia constituinte que se encarregaria de reformar o sistema político e o processo eleitoral do país. Mas isso não é tudo.

Uma das sete moções aprovadas por unanimidade pelo petistas recoloca nos militares brasileiros a cara de satã, imaginando neles um inimigo próximo que se dedicaria a conspirar contra os santos propósitos do PT. Mais do que injusta com a postura discreta e profissional que as Forças Armadas vêm adotando desde o fim do regime militar, a fundamentação da nova bandeira do PT é uma provocação que só pode partir de quem não teve até agora a grandeza de preferir a conciliação ao ressentimento, nem mesmo em nome da democracia, pela qual a maioria da população não se cansa de demonstrar preferência.

Tão empedernidos como os antigos caçadores de comunistas, que viam o diabo em todos os lugares menos no espelho, os radicais do PT agora se pretendem heróis tardios da luta já vencida e encerrada contra a ditadura. Para isso, não se acanham em suspeitar de conspirações para propor uma espécie de guerra santa fora de calendário.

Literalmente, "o PT entende ser uma tarefa urgente do governo brasileiro iniciar um processo de democratização das Forças Armadas, que precisam ser transformadas em instituições a serviço da população e da democracia. É inaceitável que alguns generais em postos de comando continuem a fazer manifestações públicas em defesa da ditadura, ou que as instituições militares possam constranger o regime democrático, colocando-se acima da lei ao desacatar decisões judiciais e administrativas legítimas".

É isso que consta do texto aprovado. Mas não há nada nele que explique o que venha um ser processo de democratização da Forças Armadas. Seria a abertura para o loteamento dos melhores cargos do comando entre os companheiros do PT? Ou seria a ativa participação do Exército na ocupação dos latifúndios que hoje pertencem ao "demônio" do agronegócio? Vindo de quem já loteou politicamente quase tudo em que meteu a mão; foi complacente com os organizadores e beneficiários do mensalão, agora processados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e acha normal transportar dinheiro na cueca, a perspectiva só não é mais assustadora porque ainda resta a esperança de que, também neste caso, vigore uma das marcas de boa parte dos alojados neste governo, ou seja, a de produzir muito pouco ou quase nada.

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