terça-feira, 23 de outubro de 2007

Finalmente um banco pra mim!



Autor Convidado: Márcio David Mattos

Economista pela PUC-Rio e membro do Instituto Liberal

09 de Outubro de 2007.


Finalmente o capitalismo vai trabalhar a meu favor.


Sou um velho empresário, visionário, com muitos projetos para desenvolver a América do Sul e torná-la a nova potência hegemônica global, com o idioma de Simon Bolívar sendo ensinado em todas as escolas e cursinhos do mundo inteiro (para fazer frente ao cursinho de idiomas imperialista BRASAS, lançarei o FUEGOS). Sempre quis tornar real todos os meus devaneios, sonhos, utopias, desenvolver um automóvel com características anti-imperialistas, trocando a força de 800 cavalos, por 1500 jegues de potência, fabricar roupas com folhas da floresta amazônica, trocar o jeans pela tanga e os condomínios de luxo imperialistas por ocas populares. O problema é que sempre que eu ia ao Banco Mundial, eles vinham com uma conversa fiada de rentabilidade do investimento, garantias , colaterais, prazo de pagamento, taxas de juros, accountability, enfim, uma série de jargões forjados no inferno da América do Norte para impedir que a minha vocação empreendedora levasse o nosso continente ao padrão de desenvolvimento do G-7.


Mas como diz um seriado cômico de uma emissora de TV brasileira vendida à dominação americana, "Meus problemas acabaram!". Ocupadíssimos e sábios ministros da economia dos países sul-americanos se reuniram e decidiram, sob inspiração divina, criar o Banco do Sul, no maior acordo de cooperação financeira internacional desde Bretton Woods. O objetivo principal é usar os recursos abundantes que estes países possuem e que, dada a inexistência de usos alternativos para os mesmos (não há escassez nem necessidade de ajuste fiscal), podem ser usados para financiar empresários visionários como eu. Imaginem como seremos felizes, ao ter recursos para Transamazônica I, II e III, Universidade do MST (com pós graduação em Invasão e Depredação Latu Sensu), o desenvolvimento do carro bolivariano, do telefone bolivariano e do computador bolivariano, com o seu programa operacional Ventanas no lugar do Windows.


Eu tinha certeza de que nem tudo estava perdido, pois a sabedoria dos nossos governantes acabará de vez com a repressão financeira e com a escassez de crédito para grandes projetos que hão de colocar nosso mavioso (ou mafioso?) continente na trilha do progresso. Já antevejo a glória futura, a Canaã Celestial, o Nirvana do progresso. Todos os projetos fantásticos que foram vetados pelos capitalistas inescrupulosos se tornarão realidade com o crédito barato, com prazo dilatado e financiado por governos comprometidos com o social. Finalmente um banco pra mim!

Nenhum comentário: