Ney Vilela
Coordenador regional do Instituto Teotônio Vilela
O primeiro oil shock, em 1973, foi provocado pelos países árabes: buscando pressionar a comunidade internacional para exigir o recuo dos exércitos de Israel ao final da Guerra do Yon Kippur, os árabes recusaram-se a fornecer petróleo. O resultado foi a quadruplicação do preço do barril.
Mesmo assim, quando chegamos ao início da década de 1980, o barril de petróleo custava muito pouco: dez vezes menos do que custava um barril equivalente de coca-cola... O preço era tão pequeno que tornava proibitivo explorar petróleo nas plataformas continentais ou encontrar formas alternativas de energia. Os grandes produtores de petróleo, na época, eram os países do Oriente Médio e a União Soviética; os grandes revendedores eram empresas norte-americanas e da Europa Ocidental, batizadas de “sete irmãs”.
Foram os revendedores (e não os países da OPEP – ou seja, os produtores) que decidiram seguir ampliando os preços. Percebendo que a velha e incompetente União Soviética não possuía a infra-estrutura necessária para aumentar suas exportações, os países ocidentais sabiam que só as “sete irmãs” poderiam se beneficiar diretamente da subida de preços. Algumas migalhas do banquete seriam entregues aos governos, semi-feudais ou ditatoriais, que governam países como Arábia Saudita, Kuwait, Emiratos Árabes e Iraque.
A majoração de preços não traria apenas vantagens mercantis: graças a ela, seria possível tornar economicamente viáveis as jazidas petrolíferas da plataforma continental do Mar do Norte e de países como o Brasil, reduzindo um pouco a enorme dependência do petróleo extraído da politicamente instável Península Arábica. Os investimentos em algumas tecnologias de formas alternativas de energia se viabilizariam, o que permitirá o desenvolvimento da química fina, da nanotecnologia, de vários processos de automatização que levarão à globalização e ao colapso econômico do comunismo real.
Os estrategistas ocidentais acertaram em suas previsões. E se beneficiaram de uma vantagem adicional: o planeta colocou a culpa pelos aumentos do preço do petróleo exclusivamente sobre os ombros dos países da OPEP. A fria análise numérica mostra que esses países lucraram, mas não ficaram com mais do que 15% dos capitais excedentes gerados pelos aumentos dos preços.
O preço internacional do petróleo continuou subindo nas décadas de 1990 e na atual. A justificativa é a de que as jazidas estão se esgotando. O que é uma meia-verdade: ninguém discute que o petróleo é um recurso não-renovável, mas as projeções indicam que haverá petróleo para os próximos cem anos. Os preços, na prática, seguem aumentando num ritmo que permite realizar o processo de desenvolvimento de formas alternativas de energia, sem que esse processo produza solavancos econômicos que coloquem em risco os interesses da indústria petroquímica.
Observemos, agora, uma questão correlata: o planeta enfrenta – ao que tudo indica – o problema de aquecimento global. Qual seria a maneira mais eficiente de enfrentá-lo? Reduzindo a queima de combustíveis orgânicos não-renováveis. E qual o jeito mais eficiente de reduzir o uso desses combustíveis? Resposta óbvia: tornando-os bem mais caros!
Se um organismo internacional, como a ONU, monitorasse a redução paulatina da extração de petróleo, os preços iriam subir. As formas alternativas de energia tornar-se-iam economicamente vantajosas: as pessoas iriam utilizar energia solar, energia eólica; os empresários iriam adaptar suas estruturas produtivas ao uso de modalidades energéticas, que já foram descobertas e que não são utilizadas por serem muito caras – em comparação com o petróleo. Hipótese que não é transformada em ação, porque as petroquímicas (e seu funcionário mais famoso, o presidente dos EUA) não deixam.
Assim, arma-se a farsa: com as desculpas de crise na Turquia, chegada do inverno e outras, o petróleo sobe. Mas sem ultrapassar os cem dólares, pois os líderes políticos ocidentais não querem colocar em cheque o interesse das grandes empresas petroquímicas. O preço alto, mas não insuportável, não inibe o consumo. Como conseqüência, deixamos de frear o aquecimento planetário.
Por conta dessa ganância irresponsável acabaremos fritos. Ao pé da letra.
Coordenador regional do Instituto Teotônio Vilela
O primeiro oil shock, em 1973, foi provocado pelos países árabes: buscando pressionar a comunidade internacional para exigir o recuo dos exércitos de Israel ao final da Guerra do Yon Kippur, os árabes recusaram-se a fornecer petróleo. O resultado foi a quadruplicação do preço do barril.
Mesmo assim, quando chegamos ao início da década de 1980, o barril de petróleo custava muito pouco: dez vezes menos do que custava um barril equivalente de coca-cola... O preço era tão pequeno que tornava proibitivo explorar petróleo nas plataformas continentais ou encontrar formas alternativas de energia. Os grandes produtores de petróleo, na época, eram os países do Oriente Médio e a União Soviética; os grandes revendedores eram empresas norte-americanas e da Europa Ocidental, batizadas de “sete irmãs”.
Foram os revendedores (e não os países da OPEP – ou seja, os produtores) que decidiram seguir ampliando os preços. Percebendo que a velha e incompetente União Soviética não possuía a infra-estrutura necessária para aumentar suas exportações, os países ocidentais sabiam que só as “sete irmãs” poderiam se beneficiar diretamente da subida de preços. Algumas migalhas do banquete seriam entregues aos governos, semi-feudais ou ditatoriais, que governam países como Arábia Saudita, Kuwait, Emiratos Árabes e Iraque.
A majoração de preços não traria apenas vantagens mercantis: graças a ela, seria possível tornar economicamente viáveis as jazidas petrolíferas da plataforma continental do Mar do Norte e de países como o Brasil, reduzindo um pouco a enorme dependência do petróleo extraído da politicamente instável Península Arábica. Os investimentos em algumas tecnologias de formas alternativas de energia se viabilizariam, o que permitirá o desenvolvimento da química fina, da nanotecnologia, de vários processos de automatização que levarão à globalização e ao colapso econômico do comunismo real.
Os estrategistas ocidentais acertaram em suas previsões. E se beneficiaram de uma vantagem adicional: o planeta colocou a culpa pelos aumentos do preço do petróleo exclusivamente sobre os ombros dos países da OPEP. A fria análise numérica mostra que esses países lucraram, mas não ficaram com mais do que 15% dos capitais excedentes gerados pelos aumentos dos preços.
O preço internacional do petróleo continuou subindo nas décadas de 1990 e na atual. A justificativa é a de que as jazidas estão se esgotando. O que é uma meia-verdade: ninguém discute que o petróleo é um recurso não-renovável, mas as projeções indicam que haverá petróleo para os próximos cem anos. Os preços, na prática, seguem aumentando num ritmo que permite realizar o processo de desenvolvimento de formas alternativas de energia, sem que esse processo produza solavancos econômicos que coloquem em risco os interesses da indústria petroquímica.
Observemos, agora, uma questão correlata: o planeta enfrenta – ao que tudo indica – o problema de aquecimento global. Qual seria a maneira mais eficiente de enfrentá-lo? Reduzindo a queima de combustíveis orgânicos não-renováveis. E qual o jeito mais eficiente de reduzir o uso desses combustíveis? Resposta óbvia: tornando-os bem mais caros!
Se um organismo internacional, como a ONU, monitorasse a redução paulatina da extração de petróleo, os preços iriam subir. As formas alternativas de energia tornar-se-iam economicamente vantajosas: as pessoas iriam utilizar energia solar, energia eólica; os empresários iriam adaptar suas estruturas produtivas ao uso de modalidades energéticas, que já foram descobertas e que não são utilizadas por serem muito caras – em comparação com o petróleo. Hipótese que não é transformada em ação, porque as petroquímicas (e seu funcionário mais famoso, o presidente dos EUA) não deixam.
Assim, arma-se a farsa: com as desculpas de crise na Turquia, chegada do inverno e outras, o petróleo sobe. Mas sem ultrapassar os cem dólares, pois os líderes políticos ocidentais não querem colocar em cheque o interesse das grandes empresas petroquímicas. O preço alto, mas não insuportável, não inibe o consumo. Como conseqüência, deixamos de frear o aquecimento planetário.
Por conta dessa ganância irresponsável acabaremos fritos. Ao pé da letra.
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