Francisco Pinheiro
Coitadinha da família do Lamarca. Querem lhe tirar o picolé da boca: o prêmio que ele ganhou post-mortem, por ter ajudado tanto o Brasil.
Coitadinha da família do Lamarca. Querem lhe tirar o picolé da boca: o prêmio que ele ganhou post-mortem, por ter ajudado tanto o Brasil.
Ajudou, sim, a... sei lá! A quê? Já me esqueci. Não importa.
Ô, raios de memória fraca! Também me esqueci como foi que um certo casal também ajudou muito o Brasil, ele brasileiro e ela judia-alemã, se agora a memória não me falha. Merecem ser cultuados como heróis nacionais: ele é nome de rua na barra; ela virou filme cult. Coitada, incompreendida, só queria fazer uma revoluçãozinha no Brasil, matar um montinho de brasileiros que eram do contra, e otras cositas más. No meio do caminho, ficou grávida.
Tenho agora recebido um monte de mensagens alusivas ao Che Guevara e convites para solenidades em homenagem à sua memória; nas bancas de jornais há edições especiais sobre ele e até camelôs vendem seus posters. Um argentino! Um argentino que ajudou a fazer uma revolução em Cuba e depois saiu por aí. Muitos acusam os povos sul-americanos de ingratos pois não o apoiaram quando, coitado (também)!, estava em seus países tentando ganhar a vida honestamente, tramando (também) só uma revoluçãozinha maneira.
E nós com isso? Não sei.
A revolução cubana teve lá seus méritos. Existiam em Cuba a elite (poderosos empresários, poderosos políticos e poderosos militares americanos) e a ralé, o dito "povão". O país era dominado pelas multinacionais American Fruit Company e American Tobaco Co. Com isso, os agricultores cubanos eram uns pobres sem-terra. Então, vindos lá de Sierra Maestra, Fidel, Che e seus seguidores puseram pra fora o Fulgencio Batista, os empresários americanos e os poderosos políticos. Aí, tudo mudou em Cuba: os militares americanos continuam dominando até hoje, mas só um pedaço; as terras da AFC e da ATC foram estatizadas; um monte de opositores foi fuzilado e a miséria foi democratizada. Os agricultores cubanos continuam uns pobres sem terra, mas têm (ou deveriam ter) orgulho de trabalhar nas terras do país (os que não têm fogem para Miami). Além de que deve ser muito bom trabalhar em terras do governo cubano, pois conheço um monte de brasileiros que, orgulhosamente, diziam ter ido trabalhar na colheita de cana em Cuba; e, mais ainda, com verdadeiro ufanismo, contavam das horas que ficavam de pé, escutando os discursos do Fidel. Se era verdade ou não, também não sei. A verdade é que se vangloriavam disso. Mas por que não foram ajudar na colheita de cana no Brasil mesmo? Sem salário, como faziam em Cuba... Ou o fizeram em troca de umas aulinhas de guerrilha?
Tá certo que o governo cubano atacou seriamente o problema do analfabetismo e que, com falta de recursos, implantou um sistema de medicina estatal, até que parecido com o inglês e o chinês (médicos de família etc). Tiveram (ou isso é propalado) um bom desenvolvimento nas ciências médica e farmacêutica. Afora isso, pegaram um monte de jovens que nada tinham a fazer e os transformaram em desportistas até que tecnicamente muito bons e que hoje são uma "casta" privilegiada. Não se sabe bem por que, volta e meia, uns fogem das delegações, pedem asilo em outros países. Por certo são uns mal-agradecidos. Afinal são poucos os cubanos que dispõem de peças de uniforme para vender e, com o dinheiro, fazer compras no camelódromo da rua Uruguaiana.
Mas, pô! E daí? Não dá pra avisar a todos que estamos no ano do centenário do Almirante Tamandaré?
Informem-se todas as efemérides ligadas aos heróis nacionais! Nós os temos!
Cadê as festas pro Santos Dumont (que acabou como aeroporto superfaturado pela ANAC), pro Barão de Mauá, pro Oswaldo Cruz, pro Ladário, pro Caxias e para tantos outros, não nos esquecendo dos inquestionáveis benefícios que os Pedros, pai e filho, nos trouxeram?
Eu só gostaria mesmo de saber é por que cargas d'água Cuba e Fidel se tornaram tão importantes para o Brasil. Por que esse verdadeiro frenesi pelo Che? Um argentino! Ninguém diz que ele era um chato, que o que queria era impor no grito suas idéias na casa dos outros?
Deve ser porque ninguém mais se lembra da piada de escoteiro: - Joãozinho, qual foi sua boa ação de hoje? - Ajudei uma velhinha a atravessar a rua. - Muito bem! e você Juquinha? - Ajudei o Joãozinho a ajudar a velhinha a atravessar a rua. E assim foi com o Pedrinho, com o Zezinho e com o Pituca, até que o chefe explodiu: - Mas precisava de tanta gente pra ajudar uma velhinha a atravessar a rua? - Precisava, sim. Porque ela cismou que não queria atravessar ...
E nós?
Nós queríamos atravessar?
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