quinta-feira, 4 de outubro de 2007

SE FOR PARA O BEM DO POVO E A FELICIDADE GERAL DA NAÇÃO, DOM LULA III DIZ AO POVO QUE FICA!

por Paulo Moura
cientista político
10.09
site DIEGO CASAGRANDE
Atenção historiadores. Atenção incrédulos comentaristas do óbvio: o rei Lula II vai reinventar o "Dia do Fico". Sim, é isso mesmo que os senhores estão lendo. Num jogo de cena que está recém em seus primeiros atos, o petismo prepara a reedição do "Dia do Fico", aquele no qual, dizem, o Imperador Dom Pedro I teria dito que "Se for para o bem do povo e felicidade geral da nação, digo ao povo que fico!". Reinventando até Marx, Lula pretende reeditar o Dia do Fico, provando que, também nisso, Marx estava errado e que é possível repetir uma farsa histórica como farsa e como tragédia ao mesmo tempo.
Só não vê quem não quer. Lula quer mais uma reeleição, pelo menos ... Aliás, Lula quer o poder eterno. Ele quer ser a reedição de si mesmo. Lula I, a conquista das elites; Lula II, a conquista das massas; e, vem aí: Lula III, a conquista do império.
Se aqui fosse Cuba, isso não seria problema. Se fosse a Venezuela, seria um pequeno problema. Nosso buraco é bem maior e bem mais embaixo. Aqui o script requer mais sofisticação. No Brasil, até estratégia política, para funcionar, tem que ser roteirizada como novela da Rede Globo. Mas, o rei Lula II e seus súditos estão à altura do desafio. Já os inimigos do rei; não.
O canastrão número um, todos já sabem quem é. Ele interpreta como ninguém a reedição da novela "O Pai dos Pobres", que estava fora de cartaz havia uns 60 anos. A claque já foi contratada para lotar o auditório; aplaudir e pedir bis. Basta o maestro mandar.
A primeira pista para o desfecho foi dada pelo próprio Lula numa entrevista recente. Quando perguntado por um repórter sobre a hipótese de mais uma reeleição, o rei disse: "não fico nem se o povo pedir". A segunda pista foi fornecida pelo 3º Congresso do PT. É o plebiscito pela reestatização da Cia. Vale do Rio Doce. Aí está o laboratório avançado da estratégia de aprovação da reeleição eterna de Lula. O personagem que faltava nesse enredo neopopulista é a massa mobilizada pedindo mais Lula-lá "contra as elites conservadoras".
Sim, eu disse faltava. Desculpem estragar a surpresa, mas uma fonte bem informada que trabalha para a revista Capricho, teve acesso a uma informação segura de um importante interlocutor de Lula que pediu para não ser identificado e me contou o fim da novela, que antecipo aqui em primeira mão, exclusivamente para nossos leitores.
A fonte da minha fonte testemunhou pessoalmente uma reunião secreta entre Lula, Zé Dirceu, Palocci e Gushiken (Tarso Genro não estava presente, pois não manda nada, com se viu no último congresso do PT), na qual ficou decidido que Zé Dirceu, através da empresa de eventos do promoter emergente, Delúbio Soares, deverá contratar milhões de figurantes para, de agora até 2010, saírem às ruas em sucessivas e cada vez maiores manifestações de massas, gritando: Fica Lula! Fica Lula! Fica Lula!
Na linha de frente das manifestações, a juventude lulista, segmento de jovens de classes populares de faixa etária entre 16 e 18 anos, recém integrados ao programa bolsa-esmola, que agregou à distribuição de mesada como nosso dinheiro, um programa de conscientização de jovens de classes populares para seu direito político de continuar recebendo esmola do Estado para o resto da vida. (Se Lênin não estivesse embalsamado daria pulos no sarcófago).
Paralelamente, a Rede Globo criará um bloco especial de três minutos diários entre o Jornal Nacional e a novela das 20 hortas, patrocinado pelo BNDE e pela Petrobrás, no qual Pedro Bial comandará uma votação interativa para que os telespectadores decidam democraticamente se querem que 0800-Lula fique mais um mandato; 0800-Lula fique mais dois mandatos, ou, 0800-Lula fique para sempre. Entrevistado por Willian Boner e Fátima Bernardes, Lula repetirá insistentemente, tal qual donzela virgem e louca para dar: não, não, não ...
Em 1º de fevereiro de 2009, em plena convocação extraordinária do Congresso, na calada da noite da véspera de feriadão de Iemanjá e com o parlamento vazio, um desconhecido deputado do PMDB de Rondônia protocolará uma emenda liberando a reeleição eterna. No final de 2009, o presidente do Congresso, diante do clamor das massas que cercam a Praça dos Três Poderes gritando "Fica Lula!"; decide ceder à voz das ruas e bota a emenda em votação.
Sentindo que a emenda passa, Serra e Aécio mandam seus tucanos votar a favor, por baixo dos panos. Afinal, governar Minas e SP está de bom tamanho ante a provável re-reeleição Lula II. A essa altura, 54% da população brasileira estará recebendo bolsa-esmola. Alckmin, prefeito de São Paulo, chora lágrimas de crocodilo, pensando que, afinal, se Lula é imbatível, até que a prefeitura de São Paulo está de bom tamanho.
Diante do cenário, Franklin Martins convoca os oito "melhores" jornalistas, dos principais veículos do país, para uma entrevista coletiva com Lula, na biblioteca do Palácio do Planalto. Na entrevista Lula, contrariado, anuncia: Se for para o bem do povo e a felicidade geral da nação e blá, blá, blá ... Lula III, o imperador do Brasil, fica. A emenda é aprovada no Congresso em plena convocação extraordinária de 2009, para valer em 2010.
FHC desiste. Nega-se a dar entrevistas. Manda os netos estudarem na Suíça. Olha amargurado para seu tucaninho de lapela - que guardava como relíquia desde o Congresso de fundação do PSDB - e joga-o numa caixinha empoeirada onde acomoda as medalhas, troféus e diplomas que recebeu ao longo da carreira. Pega Dona Ruth pelo braço, e, cabisbaixo, embarca para Paris, após aceitar voltar a dar aulas de Teoria da Dependência Revisitada, como professor convidado da Sorbone.
Plim, plim.

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