quinta-feira, 4 de outubro de 2007

COMENTÁRIOS SOBRE AMAZÔNIA

Por Péricles
Li e reli o texto do engenheiro agrônomo e ex-consultor da ONU, Flávio Garcia que, segundo me informei, é um dos estudiosos da Amazônia e crítico ferrenho do projeto de concessão de florestas públicas do Brasil.

“Para Garcia a ligação rodoviária do Brasil ao Pacífico, via Peru, vai favorecer a entrada de interesses asiáticos (China, Japão e Índia) na Amazônia brasileira, com reflexos econômicos e ambientais de difícil previsão. O governo americano, via USAID, acaba de divulgar um amplo e sistematizado programa de governança para a região amazônica. O programa conta com apoio e participação direta de nada menos que 30 Ong`s brasileiras, bolivianas, peruanas e norte-americanas. Não resta dúvida que poderemos afirmar que a partir de agora teremos para a Amazônia uma nova forma de governança externa institucionalizada”, registra o jornalista P. Lucena, em seu blog.

ONG’s, USAID, “favorecimento de interesses asiáticos”, “governança externa institucionalizada”, “reflexos econômicos e ambientais de difícil previsão”: um conjunto de estimuladores para aguçar o alarmismo que está no DNA da ideologia militar.

Continuando a leitura do texto de Flávio Garcia: diz ele que "para fazer frente aos interesses e demandas dos mercados globalizantes para hidrocarbonetos, soja, carne de boi, e outros produtos agrícolas, que estão incentivando a construção de estradas e oleodutos, imigração, apropriação de terras, de recursos do subsolo (minérios) e conflitos nas áreas indígenas", a USAID “se viu obrigada a valer-se de um conjunto de 10 (dez) diferentes estratégias para o desafiante contexto amazônico. Sobressaindo- se, dentre elas, a exigência de capacitação de lideranças locais; formação e apoio a Consórcios para conservação dos recursos naturais, a partir de ONGs, povos indígenas, populações tradicionais, agências de governo e instituições de pesquisa; reflexos da ligação rodoviária com o Oceano Pacífico; e fundos permanentes para financiamento das atividades”.

Para mim bastam esses dois trechos para fazer algumas reflexões, para evitar que sejamos manipulados por múltiplos interesses escusos, principalmente de corporações multinacionais e de Estados. O que está por trás de tudo isso são interesses geopolíticos e econômicos que serão prejudicados com a ligação das bacias do Pacífico com a Amazônica, através dessa rodovia.

Essa estrada afetaria diretamente os interesses geopolíticos dos USA porque diminuiria ainda mais a importância do canal do Panamá e poderia contribuir para tornar obsoleto qualquer plano de remodelação ou de construção de um novo canal. Além disso, essa estrada estimularia uma mais rápida e sólida integração sul americana o que reduziria a hegemonia norte americana na região.

Essa ligação, por exemplo, poderia proporcionar a tão almejada saída da Bolívia para o mar. Os Estados Unidos tratarão de encontrar quaisquer justificativas para opor-se à construção dessa estrada.

Há 20 anos atrás o grande interessado era o Japão. Hoje é a China. E não há mal nisso, pois ambos precisam de matérias primas e energéticos para manter as suas economias.

Em 1988, Bush pai pressionou para que o Japão não financiasse essa estrada caso não fossem realizados estudos prévios de impacto ambiental. E o Japão abortou qualquer investimento para não contrariar o seu parceiro maior.

Coincidentemente, agora, o Japão foi substituído pela China e a pressão mudou de ponta, pois a USAID está empenhada em mobilizar a reação contra a estrada aqui mesmo na América. Sempre para preservar o meio ambiente.

E não são somente os interesses geopolíticos dos USA que são afetados por essa ligação da Amazônia com o Pacífico, mas os mercados de commodities, pois estimularia a exploração racional da área. Três exemplos dados pelo Coronel Gélio Fregapani em uma entrevista sua que circulou recentemente pela Internet:

1. Uma só jazida de estanho na Amazônia quebrou o cartel do estanho, fazendo despencar o preço de US$ 15 mil a tonelada para menos de US$ 3 mil.
2. “Se nós explorarmos o ouro abundante da Amazônia, vai cair o preço do ouro, e isso vai diminuir o valor das reservas dos Estados Unidos, onde está certamente a maior parte do ouro governamental do mundo. Isso seria um baque para os Estados Unidos, talvez pior do que perderem o petróleo da Arábia Saudita”.
3. “Se nós plantarmos 7 milhões de hectares de dendê na Amazônia, extrairemos 8 milhões de barris de biodiesel por dia, o que equivale à produção atual de petróleo da Arábia Saudita”.

As nossas vantagens serão em todas as dimensões com o incremento do comércio internacional o que só acontece quando existe uma demanda do porte da que o agrônomo Flávio Garcia taxa como de “entrada de interesses asiáticos (China, Japão e Índia) na Amazônia brasileira, com reflexos econômicos e ambientais de difícil previsão”.

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