terça-feira, 27 de novembro de 2007

REVOLUÇÃO DAS ILHAS

Por Agnaldo Del Nero Augusto

General de Divisão Ref
Ternuma Regional Brasília

Este é o título de um dos primeiros livros escritos após a Contra-Revolução de 1964. O General Muniz Oliva, em seu livro, “Brasil: O Amanhã Começa Hoje,” faz referência a ele e comenta seu título como “a melhor síntese dos fatos”. Além de exprimir uma verdade essa expressão merece reflexão, uma consideração atenta por quem pretenda analisar imparcialmente o Movimento de 1964. Fazer um juízo reto, justo, desapaixonado.

A Contra-Revolução se fez por ações isoladas que lembram ilhas, seja pela precariedade dos meios de comunicação, seja pela dificuldade de locomoção entre regiões, seja pela ausência de um comando centralizado, o que nos conduz a uma consideração da maior importância. Indica que não havia um partido, uma organização ou um grupo que tinha como objetivo, como determinação, tomar o poder qualquer que fosse sua motivação, política ou ideológica.

Servíamos em 1964 em uma ilhota, completamente isolada, quase sem conhecimento do desenvolvimento do movimento. Sem nenhum contato com seus condutores na ilha maior que era Minas Gerais, até porque seu comandante pretendia permanecer neutro, não inspirando a confiança dos líderes do movimento na área. No nosso livro “A Grande Mentira”, nem nos referimos a esse episódio, por não nos sentirmos à vontade para relatar episódio do qual havíamos participado e, também, por considerar que ele não tinha qualquer importância no contexto do movimento. Hoje mudei de idéia em relação ao segundo argumento. Não que o episódio tenha ganhado expressão maior, mas porque seu relato ajuda demonstrar a espontaneidade da reação que se daria em todas as ilhas e ilhotas país afora. Também porque essa unidade era a Escola de Sargentos das Armas - EsSA (Três Corações/MG) e nas circunstâncias poderia causar algumas apreensões por ser um alvo preferencial das esquerdas. Pois, mesmo discordando do posicionamento do comandante a Escola foi favorável ao Movimento Revolucionário. Entre os graduados, subtenentes e sargentos da administração, auxiliares de instrutores e alunos não tivemos uma única defecção. Todos foram favoráveis à Contra-Revolução.

Hoje conto parte dessa história, como o coronel Ary Santos contou do chamado Levante dos Sargentos de Brasília, que deseja seja denominado somente e corretamente, como Levante de Brasília, porque lá no BGP, como na EsSA, pudemos contar com a lealdade dos nossos graduados. Essas duas histórias demonstram a lealdade dos sub-tenentes e sargentos e ao referenciá-las, presto minhas homenagens a esses graduados e a todos os outros, que pelo Brasil afora, agiram com a mesma lisura e coragem, mas não tiveram ainda suas participações reveladas. Essas histórias precisam ser contadas. Elas, sim, fazem parte de nossa memória.

A lealdade, como descreve o saudoso Schirmer, “é antes de tudo demonstração de apreço e de estima, a convergir para robustecer os laços de fraterna amizade que se cristaliza no imprescindível companheirismo d´armas. Virtude que desconhece fronteiras entre postos e graduações, porque abrange a todos os degraus da hierarquia”. A lealdade não deve ser confundida com o servilismo dos bajuladores. O individuo leal nunca esconde o pensamento quando deveria externá-lo. Tem gosto pela responsabilidade. É apanágio dos fortes. Prefere contradizer quando necessário, sem preocupação de agradar. A lealdade é fidelidade vivificada e prestada não somente aos companheiros, mas também aos compromissos assumidos com a Força e com a Pátria.

Não houve uma única diretriz para orientar a Contra-Revolução de 1964. Cada unidade das Forças Armadas tem uma história diferente dessa reação, da adesão ao movimento revolucionário. O amálgama que permitiu a união dessas ilhas foi a reunião de vontades, de pensamentos na defesa de nossos valores. Foram o desejo de repelir o ataque às nossas instituições, a vontade de resguardar a Democracia. Vontade que permanece intocável.

Essa expressão - Revolução das Ilhas, reflete toda espontaneidade, toda pureza, toda beleza desse movimento, e não há memória fabricada unilateralmente, farisaica, propaganda subversiva e revanchista que apague a generosidade, a nobreza desse movimento que nos enche de muito orgulho.

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Cada um de nós que, em diferentes postos e graduações tomou parte na Contra-Revolução de 1964, tem as suas histórias para contar. E não diferem do relatado acima. À época, Cmt da 6ª Cia/2º Btl/3º RI, contei com a lealdade do meu Subtenente e dos meus Sargentos, posto que não possuia um único Oficial comigo. Os Sargentos mais antigos comandavam os Pelotões e a situação não era muito diferente nas demais SU do Btl, comandado pelo saudoso Major Eduardo Couto Pfeill. A todos os antigos companheiros da jornada que nos levou a confraternizar com a tropa que vinha de Minas Gerais, em Areal, estejam onde estiverem, a minha homenagem e o meu reconhecimento.

Osmar José de Barros Ribeiro


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