Do JB ON-LINE, 14112007
Como um piloto de caça que, excitado pela iminência do combate, começa a subir aos céus ainda na metade da pista do porta-aviões, Nelson Jobim decolou já no quinto parágrafo do discurso de posse.
Até então, o substituto de Waldir Pires no Ministério da Defesa justificara a fama de gaúcho sabido com a evocação de episódios protagonizados por nomes de rodovias, ruas e avenidas - dom Pedro II, Zacharias de Goes e Vasconcellos ou Benjamin Constant, por exemplo.
A aula de história foi encerrada com o mandamento atribuído a Benjamin Disraeli, duas vezes primeiro-ministro do império britânico no fim do século 19.
"Never complain, never explain, never apologise", caprichou Jobim.
Caridoso com os muitos monoglotas na platéia, repetiu na língua nativa a lição em inglês: "Nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe", traduziu.
Foi a senha para que o controle do manche passasse às mãos do novo gerente-geral do apagão aéreo.
"Aja ou saia, faça ou vá embora", arremeteu espetacularmente o comandante Jobim.
A ameaça causaria forte impressão mesmo se gaguejada por um candidato a vereador de grotão.
Formulada pela figura com mais de 100 quilos esparramados por quase 2 metros, transformou-se num ultimato tremendo, prelúdio da contra-ofensiva reclamada pelo país desde outubro de 2006, quando se escancarou o colapso da aviação civil.
"Grande escolha", cumprimentou-se Lula.
Marco Aurélio Garcia escondeu-se no banheiro para endereçar à turma do contra outro formidável top-top-top.
A trovoada no coração do poder ultrapassou os limites do Planalto.
Andorinhas voaram de costas, urubus ficaram brancos de medo.
Romário se enganara, animaram-se multidões de flagelados dos aeroportos.
O cara não era ele. O cara era Jobim.
Era nada, não demoraram a perceber todos os brasileiros com mais de cinco neurônios.
O escolhido por Lula assumira o cargo com uma lista de condenados à degola, um balaio de candidatos a empregos federais e nenhum plano consistente na cabeça.
Quase cinco meses depois do discurso feroz, a Anac e a Infraero continuam à deriva.
Não foi sequer montada a equipe incumbida da execução de um conjunto de medidas ainda em gestação.
Enquanto o apagão comemora o primeiro aniversário, um Jobim carrancudo repete com a voz abaritonada o que o sorridente antecessor apenas miava.
"A crise vai durar mais um ano", vaticinou Waldir Pires em março.
"Os problemas não terminarão antes da baixa temporada", retocou recentemente o sucessor.
A baixa temporada começa em março.
"Não é culpa do governo", sussurrou Waldir depois da explosão do avião da TAM.
"Não é problema do governo", inocentou-se Jobim depois da implosão da BRA.
A procissão de dissabores afetou a memória do ministro.
Ele já não se lembra do terceiro aeroporto em São Paulo, do terceiro terminal de Cumbica, das mudanças imploradas por Congonhas.
E parece ter esquecido até a lição de Disraeli.
Vive se queixando das carências que infestam o universo do transporte aéreo.
Tenta diariamente explicar o inexplicável.
Pede desculpas antecipadas pelo que ocorrerá nos aeroportos neste fim de ano.
Exausto, o país do apagão espera que o passageiro da amnésia trate de agir.
Aja ou saia, ministro Jobim. Faça ou vá embora.
Como um piloto de caça que, excitado pela iminência do combate, começa a subir aos céus ainda na metade da pista do porta-aviões, Nelson Jobim decolou já no quinto parágrafo do discurso de posse.
Até então, o substituto de Waldir Pires no Ministério da Defesa justificara a fama de gaúcho sabido com a evocação de episódios protagonizados por nomes de rodovias, ruas e avenidas - dom Pedro II, Zacharias de Goes e Vasconcellos ou Benjamin Constant, por exemplo.
A aula de história foi encerrada com o mandamento atribuído a Benjamin Disraeli, duas vezes primeiro-ministro do império britânico no fim do século 19.
"Never complain, never explain, never apologise", caprichou Jobim.
Caridoso com os muitos monoglotas na platéia, repetiu na língua nativa a lição em inglês: "Nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe", traduziu.
Foi a senha para que o controle do manche passasse às mãos do novo gerente-geral do apagão aéreo.
"Aja ou saia, faça ou vá embora", arremeteu espetacularmente o comandante Jobim.
A ameaça causaria forte impressão mesmo se gaguejada por um candidato a vereador de grotão.
Formulada pela figura com mais de 100 quilos esparramados por quase 2 metros, transformou-se num ultimato tremendo, prelúdio da contra-ofensiva reclamada pelo país desde outubro de 2006, quando se escancarou o colapso da aviação civil.
"Grande escolha", cumprimentou-se Lula.
Marco Aurélio Garcia escondeu-se no banheiro para endereçar à turma do contra outro formidável top-top-top.
A trovoada no coração do poder ultrapassou os limites do Planalto.
Andorinhas voaram de costas, urubus ficaram brancos de medo.
Romário se enganara, animaram-se multidões de flagelados dos aeroportos.
O cara não era ele. O cara era Jobim.
Era nada, não demoraram a perceber todos os brasileiros com mais de cinco neurônios.
O escolhido por Lula assumira o cargo com uma lista de condenados à degola, um balaio de candidatos a empregos federais e nenhum plano consistente na cabeça.
Quase cinco meses depois do discurso feroz, a Anac e a Infraero continuam à deriva.
Não foi sequer montada a equipe incumbida da execução de um conjunto de medidas ainda em gestação.
Enquanto o apagão comemora o primeiro aniversário, um Jobim carrancudo repete com a voz abaritonada o que o sorridente antecessor apenas miava.
"A crise vai durar mais um ano", vaticinou Waldir Pires em março.
"Os problemas não terminarão antes da baixa temporada", retocou recentemente o sucessor.
A baixa temporada começa em março.
"Não é culpa do governo", sussurrou Waldir depois da explosão do avião da TAM.
"Não é problema do governo", inocentou-se Jobim depois da implosão da BRA.
A procissão de dissabores afetou a memória do ministro.
Ele já não se lembra do terceiro aeroporto em São Paulo, do terceiro terminal de Cumbica, das mudanças imploradas por Congonhas.
E parece ter esquecido até a lição de Disraeli.
Vive se queixando das carências que infestam o universo do transporte aéreo.
Tenta diariamente explicar o inexplicável.
Pede desculpas antecipadas pelo que ocorrerá nos aeroportos neste fim de ano.
Exausto, o país do apagão espera que o passageiro da amnésia trate de agir.
Aja ou saia, ministro Jobim. Faça ou vá embora.
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