sábado, 17 de novembro de 2007

CADA UM QUE PLANTE A SUA...

17/11/2007 - 09h29

'A Amazônia está sufocando', diz secretário-geral da ONU


O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse neste sábado (17) que a Amazônia esta "sufocando", ao encerrar a reunião do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em Valência.

A uma plenária de centenas de representantes de diversos países, o secretário contou o que viu em sua recente viagem a América do Sul, que incluiu a floresta tropical brasileira.

"Na Amazônia, vi como a floresta, o 'pulmão da terra' está sufocando. O Brasil está fazendo avanços sérios no combate ao desmatamento e promovendo o gerenciamento sustentável da floresta. Mas o governo teme que o aquecimento global já esteja minando estes esforços", afirmou Ban. "Se a previsão mais forte do grupo (IPCC) se tornar realidade, grande parte da selva amazônica se transformará em savana." Segundo ele, "a Antártida, as geleiras de Torres del Paine, a Amazônia - toda a humanidade deve assumir a responsabilidade por essas jóias em nome das gerações futuras", declarou.

O texto que foi divulgado oficialmente neste sábado pelo secretário-geral não menciona a Amazônia ao listar ecossistemas onde já se percebem evidencias "fortes" de impacto da mudança climática.

Mas os negociadores incluíram um quadro mais "suave" em que, entre vários exemplos, afirmam que "até meados do século, aumentos de temperaturas associados à redução do nível de água no solo devem ocasionar uma substituição gradual da floresta tropical por cerrado no leste da Amazônia".

Além disso, eles enfatizaram que terras semi-áridas do continente sul-americano - como o sertão nordestino - tendem a ser substituídas por vegetação árida.

As conclusões deste documento, uma síntese de 25 páginas feita a partir de mais de 3,5 mil folhas de relatório, terão um grande peso em uma reunião marcada para início de dezembro em Bali, na Indonésia, na qual líderes de todo o mundo discutirão o substituto do atual Protocolo de Kyoto.

O alerta dos cientistas eleva a pressão para que os governos tomem medidas concretas contra o aquecimento global. O atual Protocolo de Kyoto, que estabelece metas de emissões de CO2 para nações desenvolvidas até 2012, vem sendo descumprido por vários países e sequer foi ratificado pelos Estados Unidos.

Ban Ki-moon disse que um grande acordo pós-Kyoto "deve incluir incentivos para ajudar países em desenvolvimento a caminhar na direção da mitigação e da adaptação".

Segundo ele, os países em desenvolvimentos devem ser ajudados em três frentes: com fundos para financiar a tecnologia de energias limpas; através de "correntes financeiras para adaptação"; e por uma maior cooperação em pesquisa e desenvolvimento científico, assim como a transferência de tecnologias limpas.

"Em Bali, evitemos apontar o dedo ou encontrar culpados. Em vez disso, busquemos entendimento. Reconheçamos que os efeitos da mudança climática nos afetam a todos", pediu o secretário-geral da ONU.


NÃO, A AMAZÔNIA NÃO É O PULMÃO DO MUNDO - ALIÁS, SE FOSSE, ABSORVERIA OXIGÊNIO E LIBERARIA CO2. MAS, NÃO - ELA ABSORVE E LIBERA AMBOS OS GASES. É BOM LEMBRAR QUE O AQUECIMENTO GLOBAL EXISTE REALMENTE - MAS, COMO PARTE DOS CICLOS NATURAIS DE AQUECIMENTO E DE RESFRIAMENTO QUE SEMPRE FIZERAM PARTE DA EVOLUÇÃO DESTE PLANETA, EM TODA A HISTÓRIA DE SUA EXISTÊNCIA E NÃO TEM ABSOLUTAMENTE NADA A VER COM A INDUSTRIALIZAÇÃO OU COM A FORMA DE OCUPAÇÃO HUMANA DA TERRA. QUANTO À PRESERVAÇÃO DA AMAZÔNIA, É SÓ FAZER UMA AVALIAÇÃO DA ENORME QUANTIDADE DE RIQUEZAS, DE TERRAS E DE EMPREGOS QUE DEIXARIAM DE SER APROVEITADOS PARA QUE AQUELAS TERRAS PEMANECESSEM INTACTAS - ENTÃO, O MUNDO QUE FAÇA UMA "VAQUINHA" E COMPENSE O BRASIL, ANUALMENTE, POR ESTE "ALUGUEL" DE NATUREZA PRECIOSA PRESERVADA. NÃO? ENTÃO CADA UM QUE TRATE DE CRIAR, OU DE RECRIAR, SUAS PROPRIAS FLORESTAS.


A AMAZÔNIA NÃO É O PULMÃO DO MUNDO


José Lutzenberger (Jornal RS, 1989)



“È comum ouvirmos as pessoas dizerem que a Amazônia é o pulmão do mundo. Muitos tecnocratas usaram esta expressão para contra-argumentar que a Amazônia consome toda a quantidade de oxigênio que produz, logo não pode ser o pulmão do Planeta.


Existe aí um duplo equívoco. O pulmão consome, e não produz oxigênio, ao contrário do que pretendem os que utilizam esta imagem para dizer que a Amazônia é uma espécie de fábrica de oxigênio. Mas ela também está incorreta sob outro ponto de vista. Se a floresta, ou qualquer outro ecossistema, produzisse mais oxigênio do que consome, a concentração deste gás na atmosfera terrestre estaria em constante aumento. E isto não acontece. Pelo que sabemos, desde que houve a primeira transformação da atmosfera inicial, que era reduzinte, para uma atmosfera oxidante (dois e meio ou três bilhões de anos atrás), os níveis de oxigênio mudaram muito pouco.


A vida surgiu em uma atmosfera bem diferente da atual. Não havia oxigênio na atmosfera. Era uma atmosfera reduzinte, ou seja, que não oxidava as coisas. Naquele período ferro não se oxidava, ficava apenas preto. Hoje, ferro oxida, fica marrom, se degrada. Naquela atmosfera primordial predominavam gases como o metano, o gás carbônico e o amoníaco. Quando a vida produziu o fenômeno da fotossíntese, que tem como subproduto o oxigênio, este aos poucos foi oxidando o amonìaco, o gás carbônico, o metano, e deu origem a esta atmosfera que temos hoje, com uns 79% de nitrogênio, 20% de oxigênio e apenas um por cento de outros gases. Desde que a fotossíntese transformou aquela primeira atmosfera na segunda, as coisas têm se mantido estáveis durante cerca de dois e meio ou três bilhões de anos. Se não fosse assim, a vida teria acabado há muito tempo.


Se a concentração de oxigênio fosse mais baixa, os animais acabariam morrendo, porque precisam dele para viver. Se fosse mais alta, e em vez de 20% tivéssemos entre 25% e 30% de oxigênio na atmosfera, seria também o fim da Vida na superfície do Planeta. Uma concentração destas permitiria a uma árvore queimar em dia de chuva. O primeiro relâmpago acabaria com todos os ecossistemas. Veja, portanto, que a Vida neste Planeta é uma coisa bastante equilibrada, que mantém as condições propícias à sua própria existência.


Isto é a base do conceito Gaia.


As florestas tropicais úmidas, que antes da devastação das últimas décadas totalizavam algo em torno de nove milhões de quilômetros quadrados (mais da metade do continente americano), foram importantíssimas neste processo de manutenção das condições de vida do Planeta. Elas não foram o pulmão, como se dizia, e sim uma colossal bomba de calor. O que é "bomba de calor"? O refrigerador e o ar condicionado são bons exemplos. O primeiro tira o calor de seu interior e o dissipa do lado de fora. O ar condicionado pode tanto tirar calor da peça e jogá-lo para fora, quanto tirá-lo de fora e jogá-lo para dentro. A floresta tropical úmida é um colossal aparelho de ar condicionado, que regula a temperatura do Planeta. Há pouco tempo eu estava fazendo uma palestra no Canadá, quando um estudante perguntou como a floresta tropical úmida sobreviveu à Idade Glacial. A maioria das pessoas imagina que durante as Idades glaciais, que duraram milhares de anos cada uma (foram quatro), o Planeta inteiro ficou gelado. Nada disto! O gelo avançou na Europa, na Sibéria, na América do Norte, e um pouco aqui no sul da Argentina e da Austrália. Mas as temperaturas no Equador continuaram as mesmas. No auge dos períodos glaciais, quando o norte da Europa e o Canadá estavam cobertos por dois ou três quilômetros de gelo, as temperaturas nas regiões de Manaus ou Belém eram as mesmas de hoje. Os cinturões tropicais, estes sim, ficaram mais estreitos.


Imaginemos que no lugar da floresta tropical úmida houvesse um Saara. O deserto refletiria a maior parte da energia solar que ali incidisse de volta ara o espaço. Esta energia se perderia para o Planeta. Hoje, ao contrário, existe ali a floresta tropical úmida, que tem uma fantástica evapotranspiração. O que que dizer isto? É a soma da evaporação e da transpiração. O professor Salati, climatologista da Universidade de Piracicaba, que se aprofundou nesta questão, quando estava no INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), em Manaus, fez um grande estudo sobre o ciclo da água das chuvas da região. Colhendo amostras e comparando isótopos de hidrogênio e oxigênio, ele podia determinar exatamente de onde vinham as amostras de água da chuva, se do oceano ou de diversos processos de reciclagem. Com estes estudos, ele demonstrou que, das chuvas que caem na Amazônia, cerca de 75% são devolvidas à atmosfera em menos de 48 horas e formam novas chuvas. 25% desta água nem chega até o chão: voltam ao mar, ainda evaporando parte no caminho. Os outros 50% são bombeados pela planta no subsolo para a copa, e devolvidos à atmosfera pela transpiração.


Vamos visualizar a floresta amazônica, com o Atlântico a leste e os Andes a oeste. Os ventos alíseos trazem as grandes massas de nuvens baixas, a cerca de 800 metros, e as primeiras nuvens ocorrem já no litoral. Salati demonstrou que esta chuva, quando chega à encosta dos Andes, já desceu e subiu cerca de seis ou sete vezes. Isto resulta numa gigantesca troca de energia, que é depois distribuída pelo Planeta inteiro. Ora, se ali tivéssemos um deserto, os ventos ascendentes originados do aquecimento do solo nu dissipariam as nuvens logo após a primeira chuva. A floresta, ao contrário, absorve a energia solar e a utiliza para evaporar e condensar água, fazendo uma fantástica reciclagem que vai da costa atlântica até os Andes. Segundo Salati, a energia envolvida neste processo, sobre quase cinco milhões de quilômetros quadrados de floresta, corresponde à energia de dezenas de milhares de bombas atômicas por dia! Isto é uma gigantesca máquina de transmissão de energia”.

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