Waldo Luís Viana
Escritor e economista.
O governador Sérgio Cabral infelizmente é um moço-velho. Talentoso e inteligente, no entanto nasceu velho, esperto e conservador, contrariando a carga genética do pai, jornalista, boêmio e bonachão.
Conseguiu “fazer carreira” muito depressa na política e chegou ao posto de governador. Como legislador de albergues da juventude e de cuidados com os idosos, tornou-se, como por encanto, presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Depois, obteve eleição insofismável para o Senado, embora com pífia atuação, elegendo-se, depois, governador. No currículo, apenas uma derrota, como candidato a prefeito. Era muito verde então, não tinha os necessários “cabelos brancos” – como lhe disse certa feita Cesar Maia. No entanto, a partir de todas essas estações intermediárias, já havia ficado muito velho.
Mas não se enganem, leitores, com a carinha risonha do Serginho. O homem é uma fera e tem sede de poder. Isso é bastante legítimo num político, não fosse as companhias e amizades que teve de colecionar para chegar onde está. Muitos dirão: esse é o preço a pagar! Eu diria: é sim, enquanto todos eles não lhe cobrarem a conta...
Serginho acredita em conceitos velhos: ele acha, por exemplo, que existe uma “classe” política, na qual naturalmente ocupa lugar de destaque. Política, para ele é profissão, não um sacrifício pessoal em nome do interesse público. Como se fosse uma carreira, uma escadinha de vereador a presidente, com o obsequiado pensando no estágio imediatamente posterior.
Classe política seria essa elite que acha que jamais deve largar o osso, passando de cargo em cargo pelo voto, mas sempre se utilizando dos expedientes e delícias da máquina pública. São aqueles que roubam pra se eleger e se elegem pra roubar, como dizia o velho senador do Rio Grande do Norte, Agenor Maria. Jamais ninguém no Brasil deteve tal máquina de corrupção, posta ao sabor de vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidentes, sobretudo agora em que temos o famigerado instituto da reeleição.
Como governador, já se passaram os seis meses probatórios de Cabralzinho, desde aquela demissão de médico no primeiro dia, no hospital Getúlio Vargas, e ele já virou “vassoura velha”. Está executando uma política de confronto com “os bandidos da periferia”, fingindo que combate o narcotráfico. Os donos da bola, nesse assunto, estão no Leblon e adjacências, onde o governador mora, mas nisso ele não toca. É mais fácil utilizar a velha clivagem “polícia/bandido”, tão a gosto dos idiotas, e deixar pra lá o essencial. Está enxugando gelo...
Totalmente dependente do governo federal, nesse país totalitário, ele finge que governa, mas, na verdade, está brincando de casinha. Ele é chamado pelo jornalista Hélio Fernandes de “corruptíssimo” e não responde. Nem se indigna. Não vai responder “a pasquim” – como dizem todos os acusados pela Tribuna da Imprensa. Nem uma ação por calúnia, talvez porque essa contemple a exceção da verdade, isto é, o cara pode ir lá no juiz e “levantar a lebre”. Ou porque Hélio Fernandes seja um jornalista “idoso” e o governador lhe concederia “meia-entrada” de dúvida...
Pois bem, agora Cabralzinho nos brinda com uma opinião sobre o aborto. Uma pérola, depois da pérola de seu secretário de segurança, que nos disse que tiros em Copacabana são diferentes dos desferidos na Favela da Coréia ou no Complexo do Alemão. Para não ficar atrás, Serginho falou que, embora católico, é favorável ao aborto, à interrupção de uma gravidez indesejada em comunidades pobres, porque estas seriam verdadeiras fábricas de marginais. Assinalou que haveria um “padrão sueco” numa parte da cidade e um “padrão Congo-Zâmbia” nas favelas, desdenhando do IBGE, que vem provando que a natalidade em todo o país vem declinando e que, em breve, o Brasil vai ser um país de velhos, assim como ele...
Ao deter o aparecimento dos marginais pelo aborto, nas comunidades pobres, Serginho, o velho, vai se aproximando das teses de eugenia da raça, dos tempos de Gobineau, um antropólogo e falso aristocrata do século XIX, que dizia que o Brasil não teria futuro enquanto não eliminasse as raças inferiores. O eurocentrismo daquele inspirador de Hitler vai sendo incorporado pelo governador, que deseja controlar a natalidade das mulheres pobres através da permissão do aborto.
Muitos se manifestaram espantados com as crenças do governador, finalmente reveladas. O deputado Chico Alencar, que navega sem cessar pelo politicamente correto, disse, por exemplo, que “defender o aborto como meio de controle de natalidade dos pobres é justificar políticas de extermínio, além de ofensa ás mulheres da Rocinha e de todas as comunidade pobres”.
Mas Cabralzinho não se abala. Como o poder lhe subiu à cabeça, pensa que a sociedade brasileira é imberbe como ele. Acredita que os bandidos serão exterminados até o final de seu mandato (como imaginavam os governadores anteriores, à exceção de Leonel Brizola) e que ele, assim, vai se credenciar a saltos posteriores. Mas é previdente: executa uma política de confronto e extermínio, no estilo popular da tropa de elite e de milícias, matando jovens e adultos delinqüentes, enquanto recomenda o aborto para as mães pobres, pensando induzir, com isso, a paralisação das “fábricas” de bandidos.
Uma espécie de “solução final” a gosto dos velhos nazistas e fascistas, que devem ver no atual governador uma vocação promissora.
– Esse garoto tem futuro, diriam eles...
Escritor e economista.
O governador Sérgio Cabral infelizmente é um moço-velho. Talentoso e inteligente, no entanto nasceu velho, esperto e conservador, contrariando a carga genética do pai, jornalista, boêmio e bonachão.
Conseguiu “fazer carreira” muito depressa na política e chegou ao posto de governador. Como legislador de albergues da juventude e de cuidados com os idosos, tornou-se, como por encanto, presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Depois, obteve eleição insofismável para o Senado, embora com pífia atuação, elegendo-se, depois, governador. No currículo, apenas uma derrota, como candidato a prefeito. Era muito verde então, não tinha os necessários “cabelos brancos” – como lhe disse certa feita Cesar Maia. No entanto, a partir de todas essas estações intermediárias, já havia ficado muito velho.
Mas não se enganem, leitores, com a carinha risonha do Serginho. O homem é uma fera e tem sede de poder. Isso é bastante legítimo num político, não fosse as companhias e amizades que teve de colecionar para chegar onde está. Muitos dirão: esse é o preço a pagar! Eu diria: é sim, enquanto todos eles não lhe cobrarem a conta...
Serginho acredita em conceitos velhos: ele acha, por exemplo, que existe uma “classe” política, na qual naturalmente ocupa lugar de destaque. Política, para ele é profissão, não um sacrifício pessoal em nome do interesse público. Como se fosse uma carreira, uma escadinha de vereador a presidente, com o obsequiado pensando no estágio imediatamente posterior.
Classe política seria essa elite que acha que jamais deve largar o osso, passando de cargo em cargo pelo voto, mas sempre se utilizando dos expedientes e delícias da máquina pública. São aqueles que roubam pra se eleger e se elegem pra roubar, como dizia o velho senador do Rio Grande do Norte, Agenor Maria. Jamais ninguém no Brasil deteve tal máquina de corrupção, posta ao sabor de vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidentes, sobretudo agora em que temos o famigerado instituto da reeleição.
Como governador, já se passaram os seis meses probatórios de Cabralzinho, desde aquela demissão de médico no primeiro dia, no hospital Getúlio Vargas, e ele já virou “vassoura velha”. Está executando uma política de confronto com “os bandidos da periferia”, fingindo que combate o narcotráfico. Os donos da bola, nesse assunto, estão no Leblon e adjacências, onde o governador mora, mas nisso ele não toca. É mais fácil utilizar a velha clivagem “polícia/bandido”, tão a gosto dos idiotas, e deixar pra lá o essencial. Está enxugando gelo...
Totalmente dependente do governo federal, nesse país totalitário, ele finge que governa, mas, na verdade, está brincando de casinha. Ele é chamado pelo jornalista Hélio Fernandes de “corruptíssimo” e não responde. Nem se indigna. Não vai responder “a pasquim” – como dizem todos os acusados pela Tribuna da Imprensa. Nem uma ação por calúnia, talvez porque essa contemple a exceção da verdade, isto é, o cara pode ir lá no juiz e “levantar a lebre”. Ou porque Hélio Fernandes seja um jornalista “idoso” e o governador lhe concederia “meia-entrada” de dúvida...
Pois bem, agora Cabralzinho nos brinda com uma opinião sobre o aborto. Uma pérola, depois da pérola de seu secretário de segurança, que nos disse que tiros em Copacabana são diferentes dos desferidos na Favela da Coréia ou no Complexo do Alemão. Para não ficar atrás, Serginho falou que, embora católico, é favorável ao aborto, à interrupção de uma gravidez indesejada em comunidades pobres, porque estas seriam verdadeiras fábricas de marginais. Assinalou que haveria um “padrão sueco” numa parte da cidade e um “padrão Congo-Zâmbia” nas favelas, desdenhando do IBGE, que vem provando que a natalidade em todo o país vem declinando e que, em breve, o Brasil vai ser um país de velhos, assim como ele...
Ao deter o aparecimento dos marginais pelo aborto, nas comunidades pobres, Serginho, o velho, vai se aproximando das teses de eugenia da raça, dos tempos de Gobineau, um antropólogo e falso aristocrata do século XIX, que dizia que o Brasil não teria futuro enquanto não eliminasse as raças inferiores. O eurocentrismo daquele inspirador de Hitler vai sendo incorporado pelo governador, que deseja controlar a natalidade das mulheres pobres através da permissão do aborto.
Muitos se manifestaram espantados com as crenças do governador, finalmente reveladas. O deputado Chico Alencar, que navega sem cessar pelo politicamente correto, disse, por exemplo, que “defender o aborto como meio de controle de natalidade dos pobres é justificar políticas de extermínio, além de ofensa ás mulheres da Rocinha e de todas as comunidade pobres”.
Mas Cabralzinho não se abala. Como o poder lhe subiu à cabeça, pensa que a sociedade brasileira é imberbe como ele. Acredita que os bandidos serão exterminados até o final de seu mandato (como imaginavam os governadores anteriores, à exceção de Leonel Brizola) e que ele, assim, vai se credenciar a saltos posteriores. Mas é previdente: executa uma política de confronto e extermínio, no estilo popular da tropa de elite e de milícias, matando jovens e adultos delinqüentes, enquanto recomenda o aborto para as mães pobres, pensando induzir, com isso, a paralisação das “fábricas” de bandidos.
Uma espécie de “solução final” a gosto dos velhos nazistas e fascistas, que devem ver no atual governador uma vocação promissora.
– Esse garoto tem futuro, diriam eles...
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