"Operação de guerra"
Por Otacilio Alcantara
Por volta de 1965 uma fábrica de óleo de coco de Babaçu, em Imperatriz(MA), palmeira abundante naquela região maranhense, buscando aumentar a sua produção resolveu dobrar o preço pago pelo coco, aos fornecedores. Colocado em prática o projeto, este não deu certo. Além da produção não aumentar, até diminuiu, pois, os catadores que catavam em média 30 quilos por dia e vendiam-no a cr$0,10 o quilo, ao verem o preço dobrar, reduziram pela metade a produção diária e tendo, ao final do dia, a partir de então, os mesmos cr$3,00 que atendiam às suas necessidades, cuja falta de ambições não ensejou motivos para continuarem trabalhando na mesma intensidade, ou aumentar a cata e aumentar os ganhos. Faltou planejamento e coadunação de interesses. Antes de simplesmente aumentar o preço para a matéria prima, a fábrica deveria ter motivado os trabalhadores e os tornado co-responsáveis pela ampliação da produção.
Esta semana que passou o presidente Lula, em cujo governo o Brasil está começando tudo(?) e até a roda está sendo inventada(?), bradou aos quatro cantos, com grande alarde, o PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação, como se tudo se resolvesse alí. Os números são mesmo de grosso calibre e até fascinantes. Uma quantidade enorme de escolas em funcionamento, quantidade assustadora de escolas sem energia elétrica, milhões de micros computadores que serão comprados, um número impressionante de vagas que serão abertas nas universidades públicas, bilhões de reais que serão gastos em tres anos e o mais "fantástico" e o mais divulgado, o novo piso salarial para os professores. Ele só não falou quanto realmente vai ser efetivamente aplicado e quanto será desviado em mensalões, valeriodutos, cuecas e malas.
Números grandiosos e impactantes não resolverão o nosso grave problema educacional, já que estamos anos-luz em atraso. A gravidade é tamanha e o nosso atraso é de tal ordem que, afora as consequências deles decorrentes, seria necessária uma operação de guerra para resolver o assunto e chegar a um bom porto que redundasse em evolução da população como gente que é, satisfação pessoal e equânimidade no saber, mesmo na heterogenidade natural. Mas nunca deveria se pensar, como o Lula, numa "elite do saber", como se isto fosse salutar e não uma forma preconceituosa de programar uma meta. Mas as retóricas são a grande especialidade dele.
Bastou elevar(projetar) o valor do piso salarial para os professores, que surgiram movimentos paredistas querendo muito mais, dizendo que r$850,00 é pouco, e a partir daí muitos outros aparecerão para reivindicar mais, exigir mais e fazer com que o que se deu não passa de uma "mixaria" sem importância. A qualidade do ensino vai continuar ruim, a eficiência não virá, as salas de aulas continuarão vazias, o efeito que se imagina não acontecerá, o analfabetismo continuará castrando os individuos e a nos envergonhar como compatriotas, e influindo negativamente no desenvolvimento e no progresso da nação, que não se despirá do terceiromundismo tão arraigado em nossas mentalidades, bem ao gosto dos governantes quer se aproveitam disso.
O planejamento para a educação que se quer e precisa, será de vital importância; a concentração de esforços será essencial; o elementar não poderá ser esquecido; os grotões deverão ser acessados; as periferias das cidades, principalmente dos grandes centros urbanos, heverão de ser redescobertos social, moral, educacional e integralmente; e todos deverão ser inseridos nos mapas da cidadania, mas antes, deverão ser internados em UTIs de educação e receber um tratamento de choque.
Antes de tudo será necessário estabelecer metas, criar regras objetivas, preparar a sociedade, os professores e à população, com um acompanhamento metódico, contínuo e abalisado. O professor hoje está muito mais preocupado com a sua sobrevivência, atendo-se muito mais aos problemas da vida, do que com a auto-preparação para ensinar, trasmitir e acompanhar a evolução da modernidade. Educar não é só ensinar a ler e a escrever, principalmente nos últimos tempos. É preciso oferecer conhecimentos, embasamentos para a vida, qualificação, participação e assunção das responsabilidades civis e patrioticas. Há de oferecer meios para que todos se sintam cidadãos com direitos e deveres na prática, e não só no artigo 5 da Constituição Federal.
Terá que ser mesmo uma operação de guerra; com formas de ataques; recursos de defesas; armas a serem usadas e não só munições de uso; traçar caminhos; fazer pontes; incutir responsabilidades e fazer com que todos sejam envolvidos, mostrar que a coisa é séria, tanto o ensino quanto os seus preceitos, proteger-se em todos os flancos, botar bala na agulha, sair das trincheiras(gabinetes) e deixar o inimigo abatido no chão. Não bastará pagar melhor ao soldado. É preciso treina-lo, orienta-lo e torna-lo envolvido com a causa do ensino e com a pátria, para que a guerra não seja desmerecida e nem se torne mais uma fábrica de óleo de babaçu.
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