sábado, 29 de setembro de 2007

O G-8 E A ÁFRICA

O G-8 e a África
Por Ney Vilela
Coordenador regional do Instituto Teotônio Vilela
Os países mais ricos do planeta, reunidos às margens do Rio Spree, precisam agir para solucionar um problema muito sério: o apartheid tecnológico em que se encontra o continente africano.

A África não é só o continente menos informatizado do mundo, mas também a região privada da infra-estrutura mínima necessária ao uso de computadores, o que invalida o esforço de se fornecer equipamentos eletrônicos aos países que se situam abaixo do Deserto do Saara.

Antes de entrar na Era da Eletrônica, a África necessita construir uma rede elétrica confiável: o consumo de energia elétrica per capita mal chega a 300 kW, enquanto o consumo, nos países industrializados, já era de 4.589 kW, no longínquo ano de 1991. Para chegar à Era da Informação, precisa-se de redes de telecomunicação e de um razoável nível de conectividade. No entanto, há mais linhas telefônicas em Tóquio do que em toda a África Subsaariana. O continente africano possui 2% das linhas telefônicas de todo o planeta, sendo que mais de metade dessas linhas estão na República Sul Africana e ao Norte do Saara.

Como as empresas de telecomunicações são estatais, na maioria países africanos, a instalação de um simples aparelho quase sempre necessita de autorização governamental. A importação de equipamentos de telecomunicações é dispendiosa e incerta, pois muitas vezes “desaparece” na alfândega. A Organização da Unidade Africana criou a União Pan-Africana de Telecomunicações com o objetivo de coordenar a política de telecomunicações. Mas, por motivos políticos, a sede foi instalada no Zaire, que possui a pior rede de telecomunicações do planeta. Praticamente não há conexão de Internet por banda larga, nem conectividade entre os países africanos.

A África subsaariana apresenta deficiências em termos de conhecimentos de informática em todas as áreas, inclusive análise de sistemas, programação, manutenção e consultoria, bem como em todos os níveis operacionais, desde o usuário final até gerenciamento de redes. Somente Nigéria, Malaui e Zimbábue contam com universidades que oferecem cursos de graduação em ciências da computação. Por terem profissionais não-qualificados e sem treinamento, as organizações usuárias são forçadas a contratar profissionais do exterior que, por sua vez, desconhecem a dinâmica das organizações locais e por isso desenvolvem sistemas deficientes.

Desde a metade da década de 1980, a metade dos computadores que ingressaram na África foi doada, a maioria com tecnologia obsoleta, transformando o continente num depósito de velharias eletrônicas.

Esse subdesenvolvimento tecnológico impossibilita a África de competir no mercado internacional. Mesmo na promissora indústria do turismo, são as operadoras internacionais que ficam com “a parte do leão” das receitas geradas pelos turistas que visitam os grandes felinos africanos.

A cada avanço tecnológico, a África marginaliza-se e se distancia mais da economia global. Os novos parâmetros de dependência informacional, somados à existência de um Estado predatório, em quase todos os países do continente africano, criaram um quadro de pesadelo econômico. As nações ricas têm enorme dose de culpa pelo atual estado de coisas. Precisam, realmente, agir.

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