sexta-feira, 28 de setembro de 2007

BRINCANDO COM O PODER

Brincando com o poder


Por Otacilio Alcântara
publicado na Coluna PONTO DE VISTA/Política
Diario de Catalão (12/04/07)



O rei Nabucodonosor, para agradar à uma das suas esposas, a Amitis, brincou com o poder e construiu, no sul do hoje Iraque, na antiga Babilônia, em 605 a.C., os famosos jardins suspensos da Babilônia repletos de bela vegetação, com até 100 metros de altura, cuja água para a irrigação vinha do Rio Eufrates a 40 km dali e bombeada por artificios e vaidades.

Nero, que brincou com o poder de governar a Roma toda poderosa do mundo antigo, surtou em suas manias e um dia, para vivenciar as suas emoções, colocou fogo na cidade-poder. Os Faraós, para marcar o poder das suas trajetórias no governo, tentaram (e conseguiram) perenizar a sua existência na construção das pirâmides - Queóps, Quefren e Miquerinos - ainda hoje existentes no deserto de Gisé, no Egito. José Sarney, no Brasil, não deixou por menos e fez do Cruzeiro um Cruzado e da ferrovia Norte Sul uma marca que até hoje não se cumpriu.

Lula, dando vazão aos instintos reprimidos da vaidade, ou compensando as agruras de suas origens e se exacerbando no júbilo pelo poder, comprou mais que depressa o "aerolula", ornou a cama de dormir no Palácio Alvorada com lençóis de fino linho, e tenta registrar a sua história presidencial com a transposição incerta do Rio São Francisco, cujas águas clamam pela sobrevivência nas origens e aproveitamento sério na terminação. Se transposto, acabará sendo conforto em piscinas dos coronéis do nordeste, enquanto as terras áridas do interior continuarão rachando com a secura das inviabilidades.

Apesar disso tudo fazer parte da história da humanidade mundo afora e Brasil a dentro, não é bem isso que mais me chamou a atenção no noticiário dos últimos dias. Há, entretanto, de se levar em conta o círculo vicioso da imprensa que adora bajular os governos pelas bênçãos dos cofres públicos, e se derrama em benevolências quando as torneiras da publicidade governamental enchem as burras do faturamento. O que me chamou a atenção foi ver que o Presidente da República, ou o seu governo como um todo, estão brincando com a arte de governar ou com a arte de embromar o povo, enganar a todos, ao eleitor o incauto ou à população desatenta e parecendo ser o que não é ou faz.

A brincadeira ou a fanfarronice governamental ficou evidente, e não é nenhuma pejoração da minha parte, quando o Lula, em pleno palanque oficial, frente à uma platéia real que, por cidadania, humildade, submissão ou respeito, lhe aplaudia, ouvia e lhe dava guaridas, falou em alto e bom som que "....com saúde e educação não se brinca..." numa clara confirmação de que com o resto pode brincar, até de governar.

Será que voar de Brasília para o Piauí com todo o seu ministério, em vários aviões, para lançar o Programa Fome-Zero, era uma brincadeira e por isto estava fadado a dar no que deu? Ou será que as expectativas criadas com o Programa do Primeiro Emprego não passavam de engodo, ilusão governamental ou uma pura encheção de lingüiça de um governo que não tem projetos de trabalho, metas a cumprir e nem programas a realizar? São fortes as evidências de só haver planos de poder, e mesmo assim com tendências perigosas.

Numa síntese mais graúda, mais cruel e recente, seria o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, uma alavancagem publicitária dos arroubos emocionais da reeleição, ou jogar para o povo a ilusão de um crescimento que não haverá como não houve nenhum "espetáculo de crescimento"? Ou se fará isto com uma simples bravata, um mero decreto ou uma inconveniente Medida Provisória? O primeiro emprego não aconteceu, o Fome-Zero se escafedeu, o espetáculo do crescimento não ocorreu, e o PAC tem verossimilidades que suscitam incertezas tão fortes quanto as lacunas que ele deixou para com o nosso estado de Goiás em seu contexto programático.

Se com a saúde e a educação não se pode brincar, fica subentendido que as estradas podem acabar no brinquedo de tapar buracos; a aviação civil e os seus passageiros não merecem maiores preocupações; a hierarquia militar é uma bobagem que não precisa respeitar; a segurança pública é um problema que só afeta ao povo; a política um entretenimento que movimenta os mensalões; e a vida da população um assunto de pouca relevância. E como ficam as falas do Chefe da Nação Brasileira? Merecem crédito, ou são blá-blá-blás de destemperos verbais em locuções cheias de retóricas que afagam o ego, ilustram os momentos, agradam às platéias e se vão de acordo com os ares da ocasião?

Será que D'Gaulle tinha razão quando disse que o Brasil não é um pais sério? Ou somos nós pobres cidadãos e meros coadjuvantes nesse cenário de grandes mordomias, altos salários governamentais e poucas oportunidades à espera de um futuro que não chega e um presente que não brilha? É brincadeira!

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