sexta-feira, 28 de setembro de 2007

ANTES SÓ DO QUE MAL ACOMPANHADO

Antes Só do que Mal Acompanhado

Cel.-Av. Luís Mauro
Em 13 de abril de 2007


Depois que os militares reagiram e puseram fim ao estímulo que agentes do governo federal davam à indisciplina dos controladores de vôo, tudo parece ter voltado à calma, com as aeronaves decolando e pousando sem maiores atrasos, o que mostra que a crise no controle do espaço aéreo era totalmente artificial. Até um pedido de perdão dos revoltosos, tivemos.

Infelizmente, contudo, já começam a surgir indícios de que voltaremos a enfrentar novas turbulências no espaço aéreo, mais cedo do que esperávamos.
Confirmam-no:

– O documento emitido pela OAB, que repete todas as reivindicações dos militares amotinados, dando-lhes um respaldo que somente pode derivar do desconhecimento que aquela importante Instituição tem das Forças Armadas, em geral, e do controle do espaço aéreo, em particular;

– A parcialidade daqueles que pretendem contribuir para a solução da desordem, que parecem querer isolar, justamente, os únicos que a poderiam resolver, como mostra a fotografia abaixo, publicada em O Globo de12 de abril, acompanhada da seguinte legenda – O deputado Aldo Rebelo conversa com o ministro Waldir Pires na audiência pública na Câmara. À direita, isolado, o Comandante Saito (nunca foi tão verdadeiro o aforismo que diz: Antes só do que mal acompanhado – O Brigadeiro Saito pode estar só na fotografia, mas a Força Aérea Brasileira está mais unida e coesa do que nunca, em torno do seu Comandante);

Fonte: O Globo, de 13 de abril de 2007.

– A manchete, no mesmo jornal, na edição de 13 de abril, Controladores dizem que paciência tem limite – Presidente do sindicato reclama da falta de diálogo com o governo, que encerra a ameaça explicita de que os controladores voltarão a tumultuar o tráfego aéreo, se não forem atendidos em suas reivindicações absurdas;

– As declarações inadequadas e intempestivas, que beiram a insanidade, proferidas pelo, inexplicavelmente, ainda, ministro da Defesa, que, entre outras impropriedades, diz acreditar em reivindicações, quando ainda não se recuperou das conseqüências trágicas de ter ouvido as reivindicações de militares em greve.

Isso não quer dizer que não haja problemas, além dos artificialmente criados pelos controladores e por seus insufladores. A negligência com que o governo vem tratando esse setor de grande importância estratégica tem de ser eliminada, para que não venhamos a ter problemas verdadeiramente sérios, em um futuro próximo.

Antes, porém, temos de recuperar, integralmente, o controle da situação, sob pena de virem a ser adotadas soluções que possam destruir um sistema construído com o trabalho de brasileiros geniais, durante décadas de dedicação exclusiva.

Não podemos permitir que políticos irresponsáveis, por ignorância, por conveniência pessoal ou por simples revanchismo, ponham tudo a perder, deixando as conseqüências para um futuro que imaginam remoto, mas que já começou a acontecer em todos os setores em que puseram os seus tentáculos. Sabemos estar sendo repetitivo, não obstante, a gravidade dos fatos obrigou-nos a voltar, com ligeiras variações, ao que já dissemos em outro artigo.

Entretanto não é somente isso que está em jogo. O desmonte do controle do espaço aéreo, é verdade, atende a muitos interesses escusos subalternos, mas o principal objetivo é a nossa neutralização, levando-nos à incapacidade operacional, diante da sucessão de indisciplinas, insubordinações, reivindicações e greves de militares que se sucederiam se, por absurdo, os controladores saíssem vitoriosos, como o presidente chegou a anunciar.

Nesta hora, não podemos demonstrar fraqueza. Se não cumprimos com o nosso dever, seremos destruídos e deixaremos de existir como Forças Armadas, tornando o Estado brasileiro presa fácil de seus inimigos de ontem e de hoje. Não podemos permiti-lo, por mais vantajoso que isso possa ser para alguns de nós.

Todos sabemos, desde os bancos escolares, que ordem absurda ou que envolva a prática de crime não se cumpre. O ônus da desobediência recai sobre quem a deu e, ao contrário, o cumprimento implicaria responsabilidade solidária.
Isso responde, também, àqueles que, por ingenuidade ou por má-fé, pretendem comparar a indisciplina dos controladores de vôo com a justa reação dos Comandantes Militares.

Por outro lado, ganhar uma eleição não significa levar, como brinde, um “habeas corpus” para a prática impune de todas as formas de crime.

Nas democracias, todos, inclusive os governantes, devem manter-se nos estritos limites da Lei e não podem renunciar às suas obrigações constitucionais ou substituí-las por ações tendentes ferir cláusulas pétreas da Carta Magna e destruir as tradições mais sagradas do País.

Os mecanismos de defesa do Estado democrático existem e devem ser usados para salvaguardá-lo de usurpadores, sob pena de conivência por omissão.
Seria um contra-senso se, para não arranharmos a democracia, viéssemos a permitir que outros instalassem uma ditadura no País.

Nenhum comentário: