sexta-feira, 21 de março de 2008

POR QUE LULA DESISTIU DO 3º MANDATO?

Por Waldo Luís Viana


Luiz Inácio disputou três eleições presidenciais como empregado do PT. Morou de favor, por dez anos, graças aos préstimos de um compadre e teve empréstimos pagos graças a outro amigo, hoje albergado em cargo de confiança no próprio governo.
Hoje, Da Silva, após seis anos de mandato, evoluiu muito financeiramente e não é nem será mais empregado de ninguém. O próprio filho percorreu caminho semelhante, de biólogo de zoológico chegou a fazendeiro de primeira linha. É deveras um "fenômeno", bem maior que o Ronaldinho. E tem "saúde de vaca premiada" - como diria Nélson Rodrigues...
De correia de transmissão de seus interesses e objetivos, o Partido dos Trabalhadores passou a depender do presidente do Brasil como de uma droga pesada. Não subsiste sem ele.
A fortuna de Lula, segundo relatórios informais dos serviços secretos norte-americanos que não podem ser comprovados, remonta a dois bilhões de dólares. Ela encontra-se no exterior, assim como os recursos valiosos que o PT detém em paraísos fiscais e que exigiram que o publicitário Duda Mendonça criasse conta e empresa em paraíso fiscal para receber pagamento por serviços prestados nas eleições de 2002. O PT é uma caixa-preta, uma espécie de "arquivo X", porque toda a sua verdade está lá fora...

A máquina era para ser gerenciada em silêncio por José Dirceu, o maior socialista de mercado da face da Terra. Interlocutor de enormes fortunas e grandes lobistas com interesses no país. Ele garantiria a estabilidade da gestão dos recursos, completamente extrínsecos a qualquer perseguição do fisco, mas que aparecem com fidelidade nos períodos eleitorais. Seu erro, todavia, foi deixar o sucesso majestático subir-lhe à cabeça, tal como um caipira deslumbrado, mistura de "gestalt" com Lombroso. Hoje é réu em crime menor, execrando a funesta sorte de ser advinhado pelo menos e não temido pelo mais...
A grana estocada serve como reserva de valor para embates majoritários. Parece, então, que, estruturado nesse ambiente de grandes tacadas externas, esquenta-se o dinheiro no interlúdio entre as eleições em empreendimentos turísticos e fusões de empresas, o que, de resto, permitiria ao presidente vergar a coluna de adversários e comensais da burguesia nacional e demais agentes aos seus projetos de poder.
No entanto, ciente de que a imagem presidencial, de tão íntima dos brasileiros por tantos dias, acabaria por erodir-se em desgaste natural, o presidente raciocinou com pragmatismo que o período de 2010 a 2014 poderia ser ocupado por um regente, uma espécie de cooptado de seu partido ou candidato de coligação em grande acordo, eleito para esquentar o lugar que ele considera seu, por direito.
Dizem que tal tese fora sugerida pela City britânica, o conjunto de instituições financeiras sob o comando da Coroa inglesa e que sucede a antiga Trilateral, não prescindindo do auxílio luxuoso das instituições multilaterais do vetusto sistema de Bretton Woods e frutos do chamado Consenso de Washington - que percebeu a urgente necessidade de renovação, com uma troca de guarda eficiente para a continuidade da política nacional. Vale dizer, como os franceses, mudar para manter a mesma coisa...

Tal transformação ficaria a cargo de Aécio Neves, que se imcumbiria da missão golberyana de trazer o PT para o centro e “cristianizar” o PSDB e a boa parcela “comestível” do PMDB. Os financistas consideram que o país deveria convergir para o centro, porque “é bom para os negócios” e manteria calmo o nosso eterno gigante adormecido.
Nada melhor do que o neto de Tancredo Neves, um artífice da política de conchavos, da conversa mole entre as elites e que pugnou a vida inteira pela reconciliação vinda de cima, como concessão das minorias abastadas em direção às maiorias esperançosas, com seu herdeiro repetindo freudianamente o padrão de reunir num centrão democrático as forças políticas da nova geração, que se derrama entre nichos ideológicos de esquerda e centro-esquerda.
Essa exigência é peculiar à política brasileira, vez que não existe mais direita configurada no país. Pelo menos uma capaz de ser levada a sério. Ela foi sepultada pelos erros dos militares e recebeu a pá-de-cal durante o governo Sarney, com moratória e tudo. A vitória de Lula tornou-se o jazigo perpétuo para essa parcela diminuta do eleitorado com seus sucedâneos, permitindo-se até o governo, sem qualquer desgaste, utilizar-se de medidas ortodoxas no controle da economia. Quem diria: Lula trabalha tranquilamente com os métodos da Escola de Chicago.
E o presidente não briga com os de fora porque no exterior estão protegidos os seus interesses. Até sua amada esposa já detém cidadania italiana, no caso de algum perigo interveniente. Aqui dentro, todavia, ele poderá se divertir com uma candidatura ao Senado, para puxar a legenda petista em São Paulo e percorrer o mandato, como agora é moda, tomando várias licenças para descansar e construir outros horizontes. Nesse caso, seria cumprida rigorosamente a lei, respeitada a Constituição e não haveria qualquer percepção de ilicitude na rotação do poder.

Lula entendeu o jogo da alta finança e sabe que ela é hegemônica em tempos de globalização. Foi admitido num clube muito pequeno, jamais ocioso, e que tem recursos suficientes para trabalhar estrategicamente por espaços de dez anos. Esse é o clima de consenso oferecido pelo G8 e pelos plutocratas de Davos.
O Brasil ficará muito bem, sim senhor, se continuar funcionando conforme os ditames da comunidade financeira internacional. E ela não deseja um terceiro mandato para o atual presidente, que foi aconselhado a dissuadir também seus companheiros, aboletados na burocracia federal, de lutarem por isso.
Em troca, todas as portas permaneceriam abertas para manter-se como o operário que deu certo e eminência parda do governo seguinte, porque, por incrível que pareça, Lula é garantia de estabilidade ideológica na América Latina e isso a esquerda radical, propedêutica, já percebeu, torcendo-lhe francamente o nariz e chamando-o, à boca pequena, de traidor. O socialismo de Lula é de fancaria, apenas uma simbologia vaga para a manutenção do poder. Os movimentos sociais sabem disso, os sindicalistas e estudantes, também, mas recebem um cala-boca monetário e irresistível, como recomendava Golbery, quando financiava artistas no regime militar por baixo dos panos...
Lula não traiu ninguém, apenas amadureceu. Sabe como o mundo funciona, quais são as elites e é completamente dócil a quem realmente manda. "Lula, os iluminados do mundo te saúdam!", desde que protegidos nas barganhas de juros, recebendo os resultados da coleta infinda dos superávits primários e acolhidos nos propósitos de seus fiéis representantes, os rentistas especuladores - todos os que, juntos, irão pavimentar a estrada de permanência da liderança útil do ex-operário. Ele ganha de cá, eles recebem de lá. E isso é política...

E tais movimentos não dependem mais da sustentação e do controle do mandato. Aliás, nesse sentido, os presidenciáveis petistas são apenas buchas de canhão ou somente bois-de-piranha, como repasto de antevéspera para o posterior jogo pesado. E o certame pressupõe um grande “acordão”, sob a chancela sedutora do marketing político, da aquiescência das redes nacionais de televisão mais importantes e da burguesia nacional, docemente constrangida, que virão sufragar o candidato do regime, que aparentemente hoje não existe.
Mas, como diz atualmente a juventude, “ele já é” ! É uma realidade que está nas sombras, um saque de revólver a ser feito de repente e que precisa de que Lula saia provisoriamente de cena. É por isso que os candidatos do PT são todos provisórios, alguns até demissíveis “ad nutum” pelo presidente, personagens de um tudo ou nada que irá convergir para outro nome de consenso.
E esse plano nem mórbido é. O povo irá até gostar, porque engole tudo, desde que sejam mantidos o carnaval, o futebol, a novela, o bolsa-família e o big brother. Tudo isso, porém, tem que ser supervisionado pela via confiável das elites mundiais que acionam os cordéis e fazem o possível para que não percebamos que somos palhaços e patetas no grande jogo. É esse jogo centro-periferia que movimentará, enfim, o xadrez de 2010. Um misto de explosão dialética entre o que dizia o marxismo e o que fez a globalização com o capitalismo.
Por conseguinte, o futuro não pertence tanto a Deus. E Lula já percebeu isso...

Um comentário:

Anônimo disse...

Lula quer o terceiro mandato


Aparte do Senador Jarbas Vasconcelos (PMDB –PE) ao Senador Heráclito Fortes (DEM-PI), na sessão plenária de hoje:



Primeiro, quero parabenizar V. Exª por trazer esse assunto a esta Casa, que vive mergulhada, nos últimos dias, em profunda mediocridade, desde aquelas cenas de aprovação da MP da TV Pública. Houve episódios como os de ontem na CPI dos Cartões Corporativos. Lideranças precárias e primitivas defendem constantemente o Governo, a exemplo do que fez a Líder do PT ontem, que nos acusa de fazer prática eleitoral, aqui e; no âmbito da CPI, diz que a Ministra vai ser mais importante, ainda, em 2010.


Ela não está fugindo do contexto, porque o Presidente da República, no meu Estado, ontem, disse que, usando palavras chulas como sempre, a Oposição tirasse o seu “cavalinho da chuva”, porque quem ia ganhar a eleição era o Governo. Foi a Pernambuco no avião presidencial, montou o palanque do PAC. E esse palanque do PAC tem servido para um palanque eleitoral. Como o País já se encontra completamente desmoralizado - Senado e Câmara dos Deputados desmoralizados pelo Governo, pelo PT e pelo PMDB, que ajuda o PT – o Presidente da República está levando essa coisa na gozação e na ironia. Já desmoralizou e acuou o Judiciário. Não vejo movimentação, aqui, dos grandes partidos, como os tucanos, e os Democratas, no sentido de irem ao Supremo e à Justiça Eleitoral denunciar o Presidente da República. Não vale ele dizer que não está em campanha, porque inelegível e não disputar a eleição, em 2010. Mas está indicando pessoas e fazendo campanha eleitoral com dinheiro público, com avião, com gasolina e no chamado palanque do PAC. E ainda diz que vai para os outros Estados; e vai para os outros Estados. Se lideranças precárias, aqui dentro, defendem isso, defende dentro da CPI que a Ministra vai ser mais importante, ainda em 2004, se se faz a defesa, aqui neste plenário, de que a Ministra não deve convocada porque não tinha nada a ver, tem.


Este País não é um País de idiotas, não é? Este País não deve se surpreender porque Lula tem 70%. Quer dizer, Lula não chegou nem aos 80% ainda e pode chegar a esse patamar usando dinheiro público. Fazendo campanha eleitoral, mistificando, como tem mistificado, junto ao povo brasileiro, é possível que chegue aos 80%. Agora é preciso fazer isso que V. Exª está fazendo.


Qual o inconveniente de a Ministra vir aqui na próxima semana? Porque esses dados estavam dentro da Casa Civil e, se estavam dentro da Casa Civil, vazaram. Se é mentira ou não da Veja, é outra história. É outra história se é mentira ou se é verdade. A verdade é que se diz que há um dossiê e que o Governo o soltou. Não é a primeira vez que o Governo desmente isso. O dossiê contra José Serra em 2006 continua aí, os aloprados palitando os dentes, soltos, nenhum deles foi algemado, nenhum, nenhum deles foi algemado. Continuam trabalhando dentro do Palácio. Continuam trabalhando fora do Palácio. São do PT.
Tenha paciência com o meu aparte, Senador Mão Santa, V. Exª que é tão generoso. Mostraram um saco de dinheiro. Os aloprados mentiram. Aquele dossiê não deu em nada. Esse também não vai dar em nada. Essa CPI não vai dar em nada, porque esta Casa está completamente desmoralizada. O Presidente da República disse que não vai abrir mão de medidas provisórias. Já mandou uma enxurrada na semana passada, continua mandando agora e vai mandar mais amanhã, porque o Presidente quer desmoralizar este País, porque, desmoralizando este País, vai haver uma onda para um terceiro mandato.A justiça já está desmoralizada. O Poder Judiciário já está desmoralizado, quando enfrentou, topou, peitou um Ministro do Supremo Presidente do Superior Tribunal Eleitoral e ficou por isso mesmo. Vai para os Estados fazer campanha eleitoral. Atribui-nos, Oposição, essa responsabilidade. Suas Lideranças – para usar um termo muito comum ao nosso Presidente dos Tucanos, Sérgio Guerra – precárias e primitivas aqui dentro ficam a gritar e a dizer que estão certas e que a Oposição é que está errada e fica por isso mesmo.


Então, Senador Heráclito Fortes, o que eu queria dizer a V. Exª era que isso não vai dar em nada, mas não quer dizer que fiquemos de bico fechado, de rabo entre as pernas. Não podemos fazer isso. O que temos que fazer é gritar, é protestar, é bater na porta da Justiça, mostrar que o Presidente da República está em campanha eleitoral. Ele pode dizer a toda hora e a todo instante que estamos contra o povo, que estamos isso, que estamos aquilo, que queremos tolhê-lo, que queremos deixá-lo aqui em Brasília ouvindo os discursos da Oposição. Isso é problema dele. Mas ele não pode usar o dinheiro público para ir aos Estados com tanto tempo de antecedência da eleição, fazendo campanha eleitoral, querendo fazer este Congresso, a mídia, a opinião pública e o povo do Brasil de imbecis. Tem que haver protesto. V. Exª está certo ao fazê-lo.


A Ministra Dilma Rousseff podia ter vindo para cá e ter dito que estava na Casa Civil, mas não foi a Ministra que liberou. Pronto. Mas não. O que fizeram aqui? Na semana passada empurraram goela adentro uma TV pública por medida provisória. Eu, por exemplo, votaria uma TV pública se fosse mediante projeto de lei, mas não medida provisória.De forma que estamos em marcha batida para um terceiro mandato de Lula. As instituições serão desmoralizadas, porque ele não leva em conta a mídia, não leva em conta o Congresso. Ele já desmoralizou o Poder Judiciário. Já disse que o Tribunal de Contas da União era um acampamento de políticos aposentados. Então, não sei mais quem é que falta a Lula desmoralizar neste País para continuar essa marcha no itinerário do arbítrio.

Coturno Noturno