segunda-feira, 17 de março de 2008

AMARGO PRONUNCIAMENTO - vendilhões da pátria e nacionalisteiros 1000 x 0 patriotas e sociedade brasileira

Recebi do meu amigo e mestre Rui a notícia que um general havia feito um amargo pronunciamento, por ocasião da sua despedida do serviço ativo. Fiz a minha caminhada diária com isso na cabeça, pensando em se tratar de mais um daqueles que só resolvem falar quando não tem mais poder para agir.


O mestre Rui me passou uma cópia que, à medida que eu lia, sentia que a primeira impressão estava equivocada. Começava a se avivar na minha cabeça a figura do capitão Giovanni Drogo, a figura central do excelente “O deserto dos tártaros”, de Dino Buzzati.

Desde que li esse livro, quando ainda professor do Colégio Militar de Porto Alegre - o que já faz mais de 20 anos-, é que vejo no capitão Drogo o retrato do oficial brasileiro, agora personificado neste brilhante oficial.


O livro, escrito antes da Segunda Guerra Mundial, conta a desventura do oficial Giovanni Drogo, o qual, aos vinte anos, é nomeado, em seu primeiro posto, para o forte Bastiani, que se ergue imponente e solitário às margens abandonadas do “deserto tártaro”. Drogo, que espera ficar ali poucos meses, aguardando uma transferência, vê a vida transcorrer sem que sua razão de ser se realize: “transformar-se num soldado verdadeiro, conhecer a glória de participar de uma guerra que, tudo indica, não vai acontecer....".

No romance, o jovem tenente Giovanni Drogo, chega numa manhã de setembro ao seu primeiro posto militar: o Forte Bastiani, para o que deveria ser uma curta temporada de quatro meses e que termina sendo a história de uma vida frustrada. O jovem tenente Drogo, preso de uma angústia indefinível, quer voltar a sua cidade próxima, chegando mesmo a participar de uma ridícula audiência para transferência, sem êxito; porque há algo indefinível que o força a ficar. Drogo tinha um sonho, sim, mas nada fez de concreto para realizá-lo.

O sonho de um ideal de heroísmo militar, de uma carreira e uma vida inteira dedicada à caserna é dissipado com um dia-a-dia rotineiro – em meio à disciplina e as atividades do quartel – do refeitório ao jogo de cartas e de xadrez etc.
E a rotina no forte Bastiani o retém até que a velhice o capture, impotente para reagir ao inimigo real, de forma mais intensa e devastadora do que o invasor que chega: a vida que não se realiza.

O Deserto é o romance de um jovem oficial que passa a vida inteira, frustrado, numa fortaleza de fronteira, esperando o ataque de inimigos que talvez não existam. De um personagem em sua eterna vigília na fortaleza, à espera de um ataque que traga honra e glória.

Este livro, lido há mais de vinte anos, marcou-me muito e traços dele podem ser notados ao longo de tudo que escrevi sobre o papel que nós, militares, deveríamos assumir no pós-regime militar. Como disse um crítico: “O Deserto dos Tártaros é um livro para ou te fazer mudar de vida ou para abandonar essa, dada a profundidade do tema tratado”. Trata-se de uma aguda reflexão sobre a inutilidade do poder.

“Afinal, Buzzati nos conta um pouco da vida de todos nós. Você não tem a impressão que, às vezes, está esperando algo acontecer para mudar de vida? Que esse algo está ali, logo ali, virando a esquina, mas você nunca chega à esquina? E que, na verdade, você até sabe disso, mas não quer admitir, que você é o único responsável pelas mudanças?”, continua. Essa a grande lição deste magnífico livro: você é o único responsável pelas mudanças!

De uma crítica, das muitas que colecionei sobre o livro: “O final do livro emociona os que acompanham toda a vida de Drogo dedicada ao forte. De certa forma nos remete aos dias atuais em que muitos se dedicam obstinadamente a objetivos ilusórios, passam sua juventude lutando por um sonho e deixam de viver a vida verdadeiramente. Depois da leitura podemos nos questionar: o que ando fazendo da minha? Pelo quê ando lutando? Em pleno século XXI, se ainda não temos respostas, pelo menos conseguir formular mais claramente nossas perguntas...”.

Assim como Drogo, o jovem Tenente Peret, tinha um sonho. “A formação da minha geração foi pautada pela constante preparação para o combate. Víamos a possibilidade de emprego assim que saíssemos da Academia”, disse ele na sua despedida.

Uma espécie de vaidade militar, misturada ao desejo de uma carreira heróica, e ao fascínio impressionante pelas “terras do Norte”, pelo deserto dos Tártaros - selvagem e desolado – molda uma espécie de areia movediça em que o personagem se afunda, lenta e progressivamente, até ao final nada heróico. Tudo conspira para que Drogo fique de olho voltado para o deserto, de onde pode partir o fato que mudará sua vida.

O fascínio impressionante pelas “terras do Norte”, um fascínio pelas guerras dos outros cujos inimigos e cenários eram e são bem diferentes dos nossos. “Testemunha ocular do planejamento estratégico militar dos EUA, antes e depois do 11 Set 2001. Vi um fantástico estado de prontidão para a guerra”, relembra o general sobre a sua primeira missão nos USA.

Eu tentei fazer com que não nos transformássemos em uma fábrica de Drogos, como o nosso general Peret. Um desperdício. Uma geração perdida.

Em 1991, fui convidado para fazer uma conferência na IX Conferência Continental da Associação Americana de Juristas, precursor do Fórum Social Mundial: coronel recém punido por entrevista no JB, achavam que estaria ali uma oportunidade para “bater nos milicos”.

Defendi um novo papel, ajustado às nossas demandas e recursos. Mostrei que não tínhamos os bilhões que o Saddam Hussein havia gastado para montar um exército que acabava de ser triturado na Guerra do Golfo, mas que nada nos impedia de sermos astutos.

Aquela poderosa máquina de guerra dos Estados Unidos dependia da opinião pública americana, dependia dos contribuintes para se mover. Bastaria que não déssemos razões para que usassem desculpas para fincar o pé nas nossas imensas riquezas minerais, escasseadas com as incertezas do desmanche da URSS.

Meio ambiente, índios e narcotráfico, três razões que poderiam sensibilizar os contribuintes americanos a autorizar aventuras em nosso território. Bastavam políticas inteligentes nessas três áreas.
O resto seria se dedicar ao nosso grande inimigo: a miséria. Evitar que se transformasse em combustível para agitação social e para o surgimento desses que aí estão. Em vez de armamentos modernos, preconizava o emprego da política do “forte apache”, da idéia dos pólos do general Rodrigo Otávio, da ocupação dos bolsões de miséria.

Lembro-me que quase fui linchado na tal conferência. Chegaram à conclusão de que eu estava sugerindo abortar movimentos como o dos sem-terra. Acabar com as razões que as ONGs alardeavam pelo mundo para pressionar pela demarcação de reservas indígenas. Acabar com a massa de manobra que a Esquerda disputava com traficantes nas favelas.

Desnecessário provar que teríamos feito uma revolução, a revolução que não fizemos nas décadas anteriores.

Por tudo isso, eu lamento ver um potencial como o desse general ser desperdiçado. Uma geração desperdiçada na “eterna vigília na fortaleza, à espera de um ataque que traga honra e glória”. O sonho de um exército profissional, sem missão, sem recursos para aparelhar e sem uma política para manter esses profissionais.

No fundo, fica aquela frase do crítico citado lá no início, a tocar a consciência de todos nós: “E que, na verdade, você até sabe disso, mas não quer admitir, que você é o único responsável pelas mudanças?”.

Péricles da Cunha

O pronunciamento do General Peret:


Exmo Sr Gen Ex Carvalho , Ch EME,
Senhoras aqui presentes,Sr Gen Div,Demais Of Gen, Of e praças,Convidados e amigos,

Inicialmente, agradeço a presença de todos, o que muito me honra.

Agradeço a referência elogiosa a mim concedida pelo Ch EME nesta cerimônia.

Devo lhes dizer que não trabalhei no último mês em virtude de ter sido dispensado pelo Ch EME..

Hoje encerro mais de 37 anos de serviço exclusivo ao Brasil e ao Exército. Gostaria de relatar alguns pensamentos que nortearam a minha carreira.

Em primeiro lugar, a minha vocação veio crescendo na medida em que fui amadurecendo o sonho que vinha acalentando desde a infância e vendo o exemplo ímpar de oficial de Infantaria que foi meu pai. Formado no ambiente da 2a Guerra Mundial, sempre pautou a sua vida pelo profissionalismo, dedicação exclusiva e amor ao Exército e ao Brasil.

Outro grande atrativo da carreira militar foi a possibilidade de vencer desafios.

Os valores do Exército também foram um grande incentivador do meu ingresso na carreira. Lealdade, camaradagem, desprendimento, responsabilidade e probidade sempre foram considerados durante a minha vida.


Digo que nasci no Exército e dele não mais sai. Em 1963 fui matriculado no Colégio Militar de Recife e, junto com a luta de meu pai, acompanhei a Revolução de 31 Mar 64. No ambiente revolucionário, ingressei na Academia Militar das Agulhas Negras, em 1970. A formação da minha geração foi pautada pela constante preparação para o combate. Víamos a possibilidade de emprego assim que saíssemos da Academia. Os instrutores, muitos especializados em cursos de combate, foram os grandes moldadores e incentivadores para que no futuro eu viesse a me candidatar a esses cursos. Tenho convicção de que o ambiente vivido na amada AMAN foi decisivo para a minha incessante busca pelo estado de prontidão, meu e da tropa sob meu comando, durante toda a minha carreira.

Como Oficial de Infantaria, não pude me descuidar da minha responsabilidade como líder. Sempre advoguei que para que um subordinado meu realizasse alguma tarefa, eu teria que fazê-la antes. Mais ainda, tudo aquilo que falasse em minhas alocuções para a tropa teria que ser por mim praticado. Após concluir a minha formação, em todos os cursos que realizei, com grande carga intelectual, psicológica e física, sempre me dediquei ao extremo. Tenho convicção de que a profissão militar é uma das mais exigentes em termos de atualização. É um constante aprender. Termos como Operações Centradas em Redes, Guerra de 4a Geração e Operações de Informação são corriqueiros no linguajar de hoje e devem ser do nosso conhecimento.

Me lembro, ainda 2o Tenente em 1974, no 24o BIB, quando fui ao Palácio Duque de Caxias, no Rio, para solicitar ao pessoal da Missão de Assistência Militar dos Estados Unidos os cadernos de instrução referentes ao Pel Fuz Bld e à Cia Fuz Bld com o objetivo de traduzi-los e adaptá-los ao nosso emprego. Em 1972, havíamos recebido os M113 e ainda utilizávamos os Manuais de Campanha do Half Track e do Scout Car, ambos da 2a Guerra Mundial.

A Amazônia sempre me fascinou. Os nossos instrutores na AMAN, que eram especializados no combate na selva, nos motivavam a servir na região e a especializarmo-nos. Infelizmente, no ano de conclusão de meu curso de formação, não houve vagas em OM da região. Mas não desisti, e ainda 2o Tenente me candidatei ao Curso de Operações na Selva. Ao concluí-lo fui convidado para ser instrutor e retornei para ficar por quase três anos no CIGS, em época de poucos voluntários para tal missão.Nos Batalhões de Infantaria e nas funções de instrutor dos Cursos de Infantaria da AMAN e da EsAO, de instrutor da ECEME e da ECEMAR procurei pesquisar e adquirir conhecimentos atualizados para serem repassados à minha tropa e aos meus cadetes e alunos.

Sempre foi um sonho comandar o CIGS. A oportunidade surgiu em 1993, no meu segundo ano de instrutor na ECEME. Não estava no universo daqueles selecionados para o Comando, uma vez que ainda era moderno. No entanto, soube que ninguém naquele ano havia priorizado o Centro. Estranho, não havia candidato para comandar a escola de guerra na selva mais famosa do Mundo. Não podia admitir que um oficial fosse compulsado para comandar o CIGS. Aproveitei a minha situação de árbitro da Operação SURUMU e me apresentei ao Gen Ex José Sampaio Maia, Cmt CMA e ex-Cmt CIGS, dizendo-lhe da minha intenção. Assim, mesmo fora da relação de Comando, fui selecionado.

A vivência de mais de cinco anos no CIE me proporcionou uma visão bastante acurada dos cenários internacional e nacional, contribuindo ainda para um conhecimento amplo de nosso público interno. Também ajudou-me a entender outras culturas e fazer novas amizades nas reuniões que tivemos com os Exércitos das nações amigas.

A minha primeira passagem pelos EUA, como Oficial de Ligação junto ao Centro de Armas Combinadas, de 2000 a 2002, foi muito marcante. Primeiro por ter convivido dois anos com os militares e seus familiares no interior do Fort Leavenworth, no estado do Kansas. Segundo, por ter sido testemunha ocular do planejamento estratégico militar dos EUA, antes e depois do 11 Set 2001. Vi um fantástico estado de prontidão para a guerra. Basta dizer que menos de 30 dias após os ataques às Torres Gêmeas e ao Pentágno, o Afeganistão estava sendo invadido. Exatamente no dia 07 Out 2001. Nesse período visitei diversas organizações militares e acompanhei alguns exercícios de adestramento. Tive a ventura de acompanhar, no Deserto de Movaje, na Califórnia, o adestramento da 4a Divisão de Infantaria, uma divisão blindada, a primeira divisão totalmente digitalizada do Exército dos EUA.

Ao voltar dos EUA fui classificado no EME, por ter sido acatada a minha indicação pela antiga D Mov. Julguei que deveria transmitir a minha vivência para o Exército e assim contribuir para a sua evolução doutrinária e operacional. Fui o primeiro oficial superior a ser responsável pelo projeto da Brigada de Operações Especiais (Bda Op Esp). Cuidei da transferência de dois concludentes da ECEME para o Cmdo da Bda Inf Pqdt para ser o embrião do futuro Estado-Maior da Bda Op Esp. O primeiro Quadro de Cargos e o primeiro Quadro de Distribuição de Material foram por mim feitos e remetidos para esses dois oficiais. Viajei a Goiânia, acompanhado de engenheiros da Comissão Regional de Obras da 11a Região Militar para escolher as instalações da Bda. Aliás, todos se lembram que, por Decreto Presidencial, a Brigada foi colocada, inicialmente, no Rio de Janeiro.

Embora estivesse gostando do trabalho que realizava como Chefe da Seção de Doutrina Militar Terrestre da 3a Subchefia, fui convidado e aceitei o desafio para gerenciar o projeto de modernização do Sistema de Inteligência do Exército. Julguei que o meu passado na Inteligência e a minha vivência no exterior seriam úteis para o projeto.

Ao ser promovido a General fui brindado com o comando da 17a Bda Inf Sl. A decisão do Exército foi igual ao de uma empresa privada que investe na formação e no aperfeiçoamento de seu pessoal e depois requer retorno desse investimento. Assumi o comando em operações – Operação Mamoré, e passei o comando logo após a Operação Timbó III (Jul 2005). Foi uma grande realização profissional.

O convite e a nomeação para o cargo de Adido do Exército nos EUA e Canadá me fez, mais uma vez, acreditar na busca de pessoal com experiência para levar adiante uma missão que põe em evidência o nome do Brasil e do Exército. Após dois anos no cargo, posso afirmar que a equipe sob meu comando, com a diretriz e o apoio do EME, conseguiu melhorar o relacionamento com o Exército do Canadá e, em especial, com o dos EUA.No contexto de buscar o aperfeiçoamento do nosso relacionamento com o Exército dos EUA, fui convidado pelo própio Exército e aceitei ser o Dean (Presidente) da Associação dos Adidos Militares de Washington. Esta congregava 187 Adidos e Adjuntos, de 109 países, dos cinco continentes. Assumi em Jan 2006 e transmiti o cargo em 05 Set 07. Não preciso lhes dizer que para ser o Dean é necessário fluência no idioma inglês, excelente relacionamento com os Adidos e seus familiares e entrosamento com o Exército dos EUA.

O ambiente vivido na Embaixada do Brasil em Washington me permitiu fazer amigos e consolidar o binômio diplomacia – Forças Armadas em prol dos interesses do Brasil. Realizamos, conjuntamente, uma série de reuniões com o Departamento de Estado e o de Defesa. Além disto, fomos parceiros em diversos seminários e painéis patrocinados por entidades acadêmicas.

Ao findar a missão de Adido fui condecorado com a Medalha da Legião do Mérito, outorgada pelo Presidente dos Estado Unidos da América, em razão do meu trabalho em prol do relacionamento bilateral e entre os Adidos.

Às vezes nos enganamos, por considerarmos que todos são iguais e que, portanto, podem ocupar qualquer cargo, indistintamente. Não é uma questão de ser melhor ou pior. É uma questão de resgatar o investimento feito ao longo de uma vida profissional e colocar a pessoa mais adequada em determinada missão, particularmente quando se coloca o nome do Brasil e do Exército.

Cito o exemplo recente, do conhecimento de todos, de termos proposto Oficial-General para o comando das tropas da ONU no Haiti e não ter sido aceito por não preencher o requisitos exigidos pela organização. Na última hora, tivemos que substituir a nossa proposta e escolher aquele que se enquadrava no perfil.

Baseado na minha convicção de que um Exército só existe para cumprir a sua destinação constitucional e que nesta, a tarefa mais importante em tempo de paz é a preparação para a guerra e que tudo mais é secundário, pautei a minha vida militar. Sempre honrei o Exército, no Brasil e no exterior. Jamais deixei de cumprir uma missão da melhor maneira possível, embora reconheça as minhas limitações ...Sempre advoguei que o General é um decisor e que está nos cargos para levar adiante a melhoria das condições operacionais da tropa sob seu comando. A ele cabe o desgaste e não ao subordinado.

Agora mesmo, vi nos EUA generais com apego ao cargo e que sacrificaram a vida de diversos soldados nas Guerras do Afeganistão e do Iraque por não terem tido a coragem moral de desafiar ordens que tinham consciência de que estavam erradas.

Ao regressar dos EUA, há quase dois meses, tinha a expectativa de que seria aproveitado em um cargo que viesse aproveitar a minha experiência no Brasil e no exterior. Afinal, nesta última, acompanhei a evolução das Forças Armadas dos EUA e do Canadá antes e depois do 11 Set 2001. Em 2005 e 2006 vi toda a reestruturação das Forças Armadas Canadenses, que partiram de um cenário voltado quase que exclusivamente para forças de paz para um com características de defesa do território e expedicionário.

Infelizmente, o processo que levou à minha classificação na Diretoria de Transporte e Mobilização (D T Mob), sob o meu ponto de vista, distorceu o verdadeiro objetivo de uma instituição que tem o dever de buscar retorno, no mais curto prazo, do investimento feito em seus recursos humanos.

Inicialmente, o DOU me classificou como Adido à SGEx, no dia 03 Jul 07. Logo depois, em 25 Jul 07, foi retificada para Adido ao EME. Por quê? Qual era a intenção? Recentemente, um companheiro me informou que dois generais-de-divisão haviam comentado que eu iria ser classificado naquela Diretoria três semanas antes da publicação do Informex, em 30 Out 07. Concluo que antes de me apresentar pronto para o serviço no EME já estava decidida a minha classificação. Por que não me informaram antes da publicação no Informex? Quando questionei, me disseram que era sigiloso e não poderiam me informar. Ora, era sigiloso só para mim. Na véspera da publicação, escutei no rancho dos generais um deles, sentado ao meu lado, dizendo para onde estava sendo transferido e tenho certeza que outros também sabiam de seus destinos.. Um general da reserva me informou que já sabia da minha classificação antes do Informex. Como se transfere um Oficial-General do EME sem que o Chefe do EME tenha conhecimento? Mais ainda, tentaram me convencer que eu iria para a Diretoria porque estava para ser extinta.

Pode haver uma série de justificativas. Eu não as aceito.

O que mais pesou na minha decisão de pedir passagem para a reserva foi, sob o meu enfoque, a falta de consideração, a deslealdade e a falta de camaradagem. Jamais esperei que fosse ser tratado dessa maneira, até porque não havia motivos para tal. Só posso concluir que a minha classificação foi baseada em critérios políticos e não profissionais.

Diante desse quadro, reafirmo a minha decisão irrevogável de passar para a reserva. Tomei a atitude correta em face da situação em que me colocaram. Ser disciplinado não é ser subserviente.
A Instituição é muito maior que todos nós.

Quero deixar algumas idéias para reflexão àqueles que têm a responsabilidade de conduzi-la.

Em uma sociedade democrática, a defesa da nação não está afeta apenas aos militares. Portanto, mais do que nunca, o Executivo deve ser fiscalizado, e mesmo pressionado, pelo Congresso e pela sociedade. Os meios acadêmicos devem ter participação ativa nas questões de defesa. É importante ter o respaldo da nação para levar adiante a modernização das Forças Armadas. Temos que discutir defesa com a sociedade.

Não existem mais operações singulares. O ambiente conjunto terá que reduzir a individualidade em prol da visão pluralista. Ou partimos para a integração das Forças ou seremos ultrapassados e receberemos a ordem de fazê-la e, talvez, não nas condições mais satisfatórias.


Um planejamento estratégico militar deve estar concernente com um ou mais cenários. A estruturação de um Exército deve estar coerente com o seu emprego operacional. Da mesma forma, o reequipamento deve privilegiar o conjunto dos sistemas operacionais em determinado escalão e dentro de prioridades. Embora estejamos sendo exitosos nas operações de paz, em particular no Haiti, elas não se constituem em nossa principal missão. Não temos tido a oportunidade de adestrar e operar os sistemas operacionais. Isto é uma grande deficiência para o Exército de um país continental, que possui dez vizinhos. Uma atenção especial deve ser dada ao soldado. Em termos de evolução tecnológica, não é possível ter armamento e equipamento que remontam a meados do século passado. É um grande desafio.

É hora de dizer adeus.

Inicialmente, agradeço a Deus, por ter me guiado e aos meus subordinados. Aos meus pais que me deram uma sólida formação moral e educacional. À minha mulher Isabel, amiga e esteio por mais de 31 anos, e às minhas filhas e filho, pelo desprendimento, pelo sacrifício da profissão, dos estudos e do lazer e pela compreensão das minhas responsabilidades ao longo da minha vida profissional.

Aos meus ex-comandantes, o meu reconhecimento pelo irrestrito apoio, segura orientação e inequívocas provas de confiança que sempre me dispensaram. Aos meus verdadeiros amigos pelas manifestações de apreço para comigo e meus familiares. Aos meus subordinados que foram sempre a grande motivação para que superasse as minhas limitações e pudesse liderá-los. Eles não escolhem os comandantes. Por isto, nenhum comandante tem o direito de conduzir seus homens ao combate sem ter a certeza de lhes ter ensinado tudo aquilo necessário para tal mister.

Mais uma vez agradeço a presença de todos.

Que Deus os acompanhe e ao nosso Exército.

Muito obrigado.

Gen Bda Luiz Roberto Fragoso Peret Antunes

2 comentários:

Anônimo disse...

suas palavras são sabias quando se refere a tropa, principalmente ao subordinado, espero que eu possa ser um bom comandante como foi e que eu tenha sempre sabedoria pra poder diferenciar as atitudes humanas em relação ao seu comportamento...
Denisson Seixas Barreto - Polcial Militar de Rondonia Ex comandado na 17ª Bda Inf Sl.

Marcos Aurelio disse...

Gostaria que o Gen. Peret desse uma olhada neste comentário, pois minha vida não foi mais a mesma depois que o conheci. Ele acabou com a minha carreira, acabou com o9 meu sonho. Após anos e anos dedicados ao Exercítio, por capricho esse General, na época Coronel, me fez tomar a mais difícil decisão da minha vida. Obrigado General, mas eu ainda te desejo tudo de bom para sua vida, bem como para sua família e que um dia o Senhor encontre a paz e a justiça!